Redação nota 1.000 (Enem) 5

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Eis o texto

Somos crescidinhos

O inferno são os outros? Pode ser. Mas somos nós também. Os acidentes no trânsito servem de prova. Desculpas nunca faltaram ante os corpos estendidos nas pistas. Boa parte jogava a culpa no Estado – vias perigosas, sinalização precária, policiamento inexistente. Uma ou outra se referiam ao motorista. Generosas, diziam que ele cochilou. Ou sofreu mal-estar súbito. Ou tentou se desviar deste ou daquele obstáculo e perdeu o controle do veículo.

Pesquisas ampliam a visão sobre a realidade. Mais de 95% das tragédias no asfalto se devem a falhas humanas. Pior: boa parte dos condutores que matam ou morrem consome álcool – 40% nos dias úteis, 70% nos fins de semana. Confiantes na sorte e na impunidade, enchem a cara mesmo conscientes do risco. Com os reflexos comprometidos e o comportamento alterado, respondem com lentidão aos desafios do volante. Resultado: cerca de 42 mil pessoas perderam a vida nas rodovias brasileiras em 2013.

E daí? Lei proíbe a venda de bebida alcoólica nas estradas federais. O texto prevê multas pesadas. No caso de reincidência, o estabelecimento comercial terá as portas fechadas. E por aí vai. Haverá fiscalização? Não. Sem o censor, é mais uma lei que não pega. Motoristas festejam a continuidade da farra. Se não encontram a biriba no caminho, levam a garrafa no carro.

O ministro da Saúde pediu que pessoas denunciem irregularidades. Talvez denunciem. Mas a prática não faz parte da nossa cultura. Temos escrúpulo de dedurar os outros. Fica, então, a pergunta. Estamos condenados a morrer ou a recolher filhos e netos enrolados em plástico preto? Vamos e venhamos. Quem tem carteira de habilitação é vacinado e maior de idade. Se precisa de babá, não pode assumir a responsabilidade da própria vida e da vida dos outros. Com a palavra, o governo.