Palavras inocentes? Não existem. Escolhas implicam juízos. Muitas reforçam preconceitos. A jornalista inglesa Mona Baker, do Translator, analisou vocábulos empregados na cobertura do conflito Israel X Gaza. Provou que a mídia que se diz imparcial é pra lá de parcial. Vale ler o texto.
Doze regras de redação da mídia internacional quando o assunto é Oriente Médio
1) No Oriente Médio são sempre os árabes que atacam primeiro e sempre Israel que se defende. Essa defesa chama-se “represália”.
2) Os árabes, palestinos ou libaneses não têm o direito de matar civis. Isso se chama “terrorismo”.
3) Israel tem o direito de matar civis. Isso se chama ”legítima defesa”.
4) Quando Israel mata civis em massa, as potências ocidentais pedem que seja mais comedida. Isso se chama ”reação da comunidade internacional”.
5) Os palestinos e os libaneses não têm o direito de capturar soldados de Israel dentro de instalações militares com sentinelas e postos de combate. Isso se chama ”sequestro de pessoas indefesas”.
6) Israel tem o direito de sequestrar a qualquer hora e em qualquer lugar quantos palestinos e libaneses desejar. Atualmente são mais de 10 mil, 300 dos quais são crianças e 1.000 são mulheres. Não é necessária qualquer prova de culpabilidade. Israel tem o direito de manter sequestrados presos indefinidamente, mesmo que sejam autoridades eleitas democraticamente pelos palestinos. Isso se chama ”prisão de terroristas”.
7) Quando se menciona a palavra Hezbollah, é obrigatória a mesma frase conter a expressão ”apoiado e financiado pela Síria e pelo Irã”.
8) Quando se menciona Israel, é proibida qualquer menção à expressão ”apoiada e financiada pelos EUA”. Isso pode dar a impressão de que o conflito é desigual e que Israel não está em perigo de existência.
9) Quando se referir a Israel, são proibidas as expressões ”territórios ocupados”, ”resoluções da ONU”, ”violações dos direitos humanos” ou ”Convenção de Genebra”.
10) Tanto os palestinos quanto os libaneses são sempre ”covardes”, que se escondem entre a população civil, que ”não os quer”. Se eles dormem em casa, com a família, a isso se dá o nome de ”covardia”. Israel tem o direito de aniquilar com bombas e mísseis os bairros onde eles estão dormindo. Isso se chama “ação cirúrgica de alta precisão”.
11) Os israelenses falam melhor o inglês, o francês, o espanhol e o português que os árabes. Por isso eles e os que os apoiam devem ser mais entrevistados e ter mais oportunidades do que os árabes para explicar as presentes Regras de Redação (de 1 a 10) ao grande público. Isso se chama ”neutralidade jornalística”.
12) Todas as pessoas que não estão de acordo com as Regras de Redação acima expostas são ”terroristas antissemitas de alta periculosidade”.