Morar em Brasília tem montões de vantagens. Uma delas: o corpo diplomático. O mundo está no Planalto Central. Moradores privilegiados usufruem concertos exclusivos, praticam línguas estrangeiras, saboreiam comidas exóticas. Em suma: mergulham em culturas de Europa, França e Bahia.
Vale um exemplo. Ontem, um grupo de embaixadas ofereceu um jantar nota mil. Surpreendeu os convidados duas vezes. A primeira foi o cardápio. Chefes nacionais e estrangeiros criaram pratos com ingredientes 100% tupiniquins e sofisticação francesa. Servida, a iguaria merecia descrição do criador.
Foi aí que aconteceu. Daniel Briand explicou:
— Queijo canastra, uruçu do Pará, tiúba do Maranhão, jandaíra da caatinga e quatro tipos de méis.
Os comilões paralisaram os talheres no ar. Ouvidos estranharam. Olhares se encontraram cúmplices. A questão: quatro tipos de méis? Passada a surpresa, palpites pediram passagem. Um: mel não tem plural. Outro: mel tem plural. Mas na construção de Daniel é a vez do singular. E daí?
Com a palavra, o paizão
Os donos da festa ouviram uns e outros. Quem tinha razão? Melhor responder por etapas. Primeiro passo: desvendar o mistério do número do monossílabo. O Aurélio ajudou. O pai de todos nós ensina que o brinde das abelhas tem dois plurais. Um: meles. O outro: méis. A voz de Minerva
E a construção? Quatro tipos de mel ou quatro tipos de méis? Foi um pega pra capar. Alguns partiram pra analogia:
— Tipos de carros, tipos de casas, tipos de bebidas, tipos de comidas. Logo, tipos de méis.
— Será? Não seria tipos de carro, tipos de casa, tipos de comida e, claro, tipos de mel?
A confusão se instalou. Os convidados esqueceram comidas e bebidas. A língua imperou no pedaço. Entre os que apostavam no singular e os que apostavam no plural, Fernando deu a resposta definitiva:
— Quatro mulheres, quatro tipos de mulher. Quatro méis (ou meles), quatro tipos de mel.
Resumo da ópera
Morar em Brasília enriquece o paladar e aprimora a língua. É privilégio.