rascunhos

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Pérola legislativa “O que é bom”, diz o povo sabido, “anda devagar. O que é ruim se espalha rapidinho”. Vale o exemplo de Brasília. Lei local obriga os elevadores a ostentar uma placa. Nela, os dizeres impostos pela Câmara: “Aviso aos usuários: antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar”. O texto provoca arrepios. Tem, nada menos, que três erros. Os candangos protestaram. Não queriam ver a aberração todos os dias à frente dos olhos. Não adiantou. Pior: o deputado Raimundo Santos, do Pará, copiou a idéia e a frase. Apresentou o Projeto de lei 3.504, que obriga a fixação da tal advertência Brasil afora. Murilo Frade viu. Em desespero, pediu socorro à coluna. Quer que o texto correto seja publicado de novo (meses atrás, o assunto freqüentou esta página). Assim, talvez, Sua Excelência se manque. Ainda há tempo de fugir do vexame. Pedido de leitor é ordem. Ei-lo: Aviso aos usuários: antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar. Por quê? 1. No caso, só se pode entrar no elevador. 2. ®MDUL¯O mesmo não funciona como sujeito. 3. A conjunção (se) atrai o pronome. É isso. “O imperador não está acima da gramática”, disse Júlio César. “Nem os deputados”, dizemos nós. Lição de verbos A meninada só aprende verbo na decoreba. Por isso, os professores põem os alunos em coro a repetir conjugações e conjugações. Outro dia, não foi diferente. A diferença foi a visita inesperada. Em campanha para a prefeitura paulistana, Paulo Maluf chegou à escola da periferia. Ao passar diante de uma das salas, ouviu a garotada falando ao mesmo tempo: ­ Eu malufo, tu malufas, ele malufa, nós malufamos, eles malufam. Impressionado, o eterno candidato se vira para a diretora e diz: ­ A senhora deve estar orgulhosa desses meninos. Eles são ótimos. ­ Nem todos, respondeu a mestra. Nem todos. Outro dia, pegamos um malufando um refrigerante na cantina. Jogo de palavras Bush é presidente candidato ou candidato presidente? A questão lembra os biscoitos Tostines. Eles são crocantes porque vendem mais ou vendem mais porque são crocantes? Em ®MDUL¯Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis faz jogo semelhante: “Não sou um autor defunto, mas um defunto autor”. Qual a manha? No caso, a mesma palavra aparece no papel de duas classes. Uma é substantivo. A outra, adjetivo. Qual é o quê? Na língua, a ordem dos termos conta. O primeiro é substantivo. O segundo, adjetivo. Bush é ®MDUL¯presidente candidato ­ presidente que concorre à reeleição. Brás Cubas é ®MDUL¯autor defunto ­ autor que escreveu a obra depois de morto. É assim Os fonemas são enganadores. Soam de um jeito. Escrevem-se de outro. É o caso do l. No fim da sílaba, a letra soa u. Valem os exemplos de ®MDUL¯mal, carnaval, animal. Às vezes, o fim da sílaba não coincide com o fim da palavra. ®MDUL¯Fral-da, cal-da e ®MDUL¯mal-va-da servem de prova. Aí também o l se pronuncia como o u. Daí o troca-troca de letras. Sem corar De repente, não mais que de repente, Palocci virou herói. O ministro ganhou capa da ®MDUL¯Veja, entrevista no®MDUL¯ Bom-Dia, Brasil, e matéria em jornais e revistas. Na terça, a fama lhe subiu à cabeça. Ao falar sobre o crescimento do PIB, disse: ­ Há um ano atrás tínhamos uma inflação de quase 10%. Nem corou. Pudera! O homem não se deu conta do baita pleonasmo. Há indica tempo passado. Atrás também. Os dois juntos são indigestos. Melhor ficar com um ou outro: Há ®MDUL¯um ano, tínhamos inflação de quase 10%. Um ano atrás,®MDUL¯ tínhamos inflação de quase 10%. Leitor pergunta Eu como traíra sem espinho? Ou traíra sem espinha? Tânia Martinez Talim, Belô ®MDUL¯ Coma a traíra sem espinha. Bom proveito.®MDUL¯ *** Tenho uma dúvida. Pode-se usar chiquetézimo no lugar de chiquérrimo? Miclelly, lugar incerto Ambas as palavras ­ chiquérrimo e chiquetérrimo ­ não freqüentam o dicionário. Mas se ouvem por aí. São formas afetadas de falar. Colunáveis e colunistas sociais as adoram. Se você gosta delas, não se acanhe. Use-as. ®MDUL¯_15:42 11/01/05translated by GENERIC