“A dúvida me agrada não menos que o saber.” Dante Alighieri Quebra-cabeça vaticano Nossa Senhora! A renúncia de Bento XVI provocou revolução no Vaticano. Dúvidas pipocaram por todos os lados. Uma delas: como chamar o papa que deixa o trono de São Pedro em vida? Ex-papa? Cardeal? Sobraram palpites. Venceu papa emérito. Na origem latina, o adjetivo quer dizer que tem merecimento, aptidão, superioridade. O sentido se ampliou. Abrangeu o significado de quem se aposentou, mas desfruta as vantagens do cargo. Em bom português: quem foi papa não perde a santidade. O papa Bento XVI agora é papa emérito Bento XVI. Mesma família Meritório, demérito e imérito pertencem à ilustre família de mérito. Mais um? O superlativo meritíssimo, tratamento dado a juízes. O bajulador significa de muito mérito, pra lá de merecedor. Na boca do povo Três palavras caíram na boca do povo. Trata-se de concílio, conclave e consistório. O trio tem um denominador comum. São coletivos. Concílio é reunião de bispos. Consistório, de cardeais sob a presidência do papa. Conclave, de cardeais para eleger o papa. Por falar em coletivo… O goleiro Bruno sentou-se no banco dos réus. É acusado de ter mandado matar Elisa Samudio. Culpado? Inocente? Sete jurados responderão. É o júri. Sem dizer O cardeal escocês não teve saída. Acusado de homossexualismo, Keith O’Brien perdeu o moral de participar do conclave que escolherá o sucessor de Bento XVI. Renunciou. Ao jogar a toalha, disse que teve “relações impróprias” com homens. Ops! Ele estudou na escola de Bill Clinton. O então presidente americano era perito em falar sem dizer. Ao confessar o caso com a estagiária Monica Lewinski, usou “relações impróprias” em vez de relações sexuais. Ambos lançaram mão do eufemismo. Eufemismo é isto: adocicamento do termo. Há palavras que às vezes chocam, causam dor, provocam imagens desagradáveis. A saída? Apelar para outras, mais brandas. É o caso de morte. Muitos sentem medo de pronunciar o dissílabo. O que fazem? Recorrem a eufemismos. Manuel Bandeira chamou-o de a “indesejada das gentes”. Outros dizem passamento, falecimento, viagem, ida para a companhia do Senhor, passagem desta pra melhor, espichar a canela, vestir paletó de madeira, bater as botas. Em suma: para fugir do diabo, recorrem a todos os demônios. Ops! O governo avança. Em 2012, arrecadou R$ 1,59 trilhão. O que é isso? Pra entender número tão grandão, vale lembrar: a cifra representa 36,27 do PIB — todinha a riqueza produzida pelo país. Cada brasileiro desembolsou, em média, R$ 8.230 em tributos no ano passado. É um recorde. Olho vivo! Acerte na pronúncia. Recorde se pronuncia como concorde. Paroxítona, a silaba tônica é cor. Bobeei “A implantação obrigatória da reforma ortográfica ganhou tempo. Até 31 de dezembro de 1916 conviverão as duas grafias — a antiga e a novinha.” Bobeira, não? O calendário precisa andar um século pra trás. Na ficção, até que pode. Mas, na vida real, não. Melhor olhar pra frente. Até 31 de dezembro de 2015, conviverão as duas grafia. A partir de 1º de janeiro de 2016, só a novinha terá vez. Acerto que garante vaga Como você chama o ovo frito que vem com a gema amarelona? Muitos dizem “estalados”. Bobeiam. O ovo é estrelado. Leitor pergunta Li, no jornal de domingo, esta frase: “Por enquanto, estão de fora os Canhedos e os Amarais”. Penso que não se deve colocar no plural os sobrenomes. Ficaria mais correto: “Por enquanto, estão de fora os Canhedo e os Amaral”. Estou certo ou errado? Hélio Scolik, Brasília O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) manda tratar os nomes próprios sem privilégios. Eles se flexionam como os vira-latas. Grandes autores seguiram a regra tim-tim por tim-tim. Lembra-se do clássico Os Maias, de Eça de Queirós?