Rabo de galo

Publicado em Geral


 

 
Márcio Cotrim      
 
Não é novidade. Como você deve saber, em inglês essa expressão significa, literalmente, cock, galo, e tail, rabo, cauda, aportuguesada para coquetel. 

 
      Mas, e daí? O que tem a ver uma coisa com a outra? Vamos ao berço da palavra. Há várias teorias sobre a origem da bebida que tanto nos pode estimular as papilas gustativas como nos animar o espírito. 

 
      Uma delas ensina que, na guerra da independência dos EUA, a taberneira Betsy Flanagan, viúva de um soldado revolucionário, teria roubado as penas do rabo de um galo do inimigo para decorar os drinques que servia em sua taberna. 

 
      Outra versão relaciona a palavra às rinhas de galo travadas na região do Mississipi. Nelas, as penas arrancadas do galo vencedor eram usadas para mexer os drinques dos que haviam apostado nele. 

 
      Há ainda quem mencione um espetacular drinque inventado por uma linda jovem mexicana chamada Coctel, veja você. 

 
      Na verdade, todo coquetel combina duas ou mais bebidas, geralmente alcoólicas, ao qual costumam ser adicionados gelo, às vezes frutas, creme de leite, açúcar e outros ingredientes. Habitualmente, é servido em eventos sociais. 

 
      Foram os americanos que o popularizaram nos anos 20 do século passado, ironicamente durante a vigência da lei seca nos EUA — era uma forma disfarçada de beber sem chamar a atenção das autoridades. Foi o caso, por exemplo, do Bloody Mary e do Martini, este um dos símbolos do american way of life , o jeitão americano de vida. Entre nós, a brasileiríssima caipirinha tem o seu lugar no pódio. 
 

      O coquetel é figurinha fácil em qualquer recepção que se preze. Mas, nos dias de hoje, tenha cuidado, não abuse, ou você poderá ver o sol nascer quadrado depois de ser reprovado no constrangedor teste do bafômetro. . . 
 
 

     OFF — Tipo da palavra inglesa que pode ocupar muitas páginas dos melhores dicionários e , como anunciava o Bombril, tem mil utilidades. Por exemplo, cumprindo idiota síndrome de macaquice, o comércio tupiniquim adora escrever off  nas vitrines, depois de um número, para indicar que o produto está, digamos, com 50% de desconto. Nesse caso designa, até que corretamente, sua acepção original de diminuição, condição menor, afastamento. Também aparece quando mencionada nas expressões off the records, literalmente fora dos registros, ou quando alguém alega estar falando em off  — diz aquilo que não deve ser publicado. A palavrinha é rica em significados. Um deles chega a ser hilário — e, segundo alguns, verídico. Contam que em certos navios da Marinha, brasileira existe uma chave, provavelmente inglesa, muito usada. Nela, aparece em destaque o aviso de ligar e desligar: on e off,  o que leva a marujada a chamá-la de Onofre e dar instruções do tipo: “ Liga o Onofre!” ou “Desliga o Onofre!”. Deve haver muito Onofre por aí que nunca imaginou tal origem para seu nome. . .  
 
 


MAHATMA — Palavra que vem do sânscrito — nada a ver com a operação Satiagraha da Polícia Federal, cujo nome, também em sânscrito, quer dizer “ resistência pacífica e silenciosa”, só que não tem nada a ver com falcatruas. . . Falando sério: Mahatma, também do sânscrito, se compõe de maha, grande, e atma, alma. É título atribuído a criaturas de elevada espiritualidade e alto conhecimento, condição que se encaixa como uma luva na carismática figura do líder indiano Mohandas Karamchand Gandhi, que se consagrou pela prática da não-violência, decisiva para a independência da Índia. O processo, apesar de vitorioso em 1947, culminou com o estúpido e covarde assassinato do próprio Gandhi, para assombro de todos os que cultivam o caminho da paz para o entendimento entre os homens. O brutal episódio faz lembrar o tristemente famoso aforismo: “ Quanto mais conhecemos os homens, mais admiramos os cães”. . . 

 
xx

 
     O leitor Edney Mangrich, de Ceilândia Sul, DF, comenta que, lendo um livro de Nietzsche, encontrou a expressão “céu alciônico” e deseja saber seu significado.  

 
     Falemos de mitologia. Alcíone (palavra proparoxítona), era filha de Éolo, deus dos ventos. Era casada com Ceix, até ele morrer num naufrágio. Advertida, num sonho, da iminente tragédia, Alcíone se atirou ao mar. Compadecidos, os deuses a transformaram numa ave marinha chamada alcíone. Daí por diante, ainda ensina a mitologia, Éolo passou a fazer com que os ventos se acalmassem durante sete dias no inverno, período em que os alcíones põem ovos — que linda história! 

 
     Daí a palavra alciônica — ou alciônea — designar a ave de bom augúrio que faz seu ninho no mar, quando calmo. Lembra serenidade, bonança, certamente bafejada pela brisa eólica trazida por seu pai mitológico. . .       
 
(Coluna publicada na Revista do Correio, que circula aos domingos no Correio Braziliense)