Questão pessoal

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br

O aborto volta ao debate. Não para ser tratado com bom-senso e civilidade. Mas para tirar votos deste ou daquele candidato. Em nenhum momento a mulher ocupou o centro da discussão. Paradoxalmente, porém, a decisão está nas mãos dela. Se uma decide interromper a gravidez, a lei a fará voltar atrás? Os fatos dizem que não.

A Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) informa que uma em cada sete mulheres em idade reprodutiva recorre à prática. Quem pode paga os serviços de clínica privada. Lá, recebe tratamento VIP. Quem não pode arcar com a despesa busca açougueiros. Os meios são medievais. Agulhas de tricô & cia. fazem o trabalho. Infecções, hemorragias, sequelas irreversíveis cobram o preço da aventura.

A lei restringe o atendimento às grávidas. O art. 128 do Código Penal (de 1940) autoriza o aborto em duas ocasiões. Uma: se a vida da mãe corre risco. A outra: se a gestação resulta de estupro. Nada mais. E daí? Feito o estrago, a vítima nem sempre tem coragem de recorrer ao hospital. Às vezes, vai tarde. Não raro perde a vida.

Segundo o Ministério da Saúde, o aborto inseguro mata uma brasileira a cada dois dias. Três milhões de curetagens ocuparam o pódio das cirurgias realizadas pelo SUS entre 1995 e 2007. O tema é, pois, de saúde pública. Mas os presidenciáveis o ignoravam. Quando entrou na campanha, fez ecoar gritos e gemidos.

Por que o escarcéu? A ignorância responde por alguns ruídos. A desinformação, por outros. A intolerância, pela gritaria. Descriminar o aborto não significa incentivar o aborto. Significa abrir as portas dos hospitais públicos para quem decidiu interromper a gravidez. Em lugar de açougue, sala cirúrgica. Salva-se uma vida em vez de perder duas.