João Eduardo quer tirar 10 na redação do Enem. Mas tem duas pedras no caminho. Uma delas: não gosta de escrever. A outra: considera impossível fazer um bom texto em 30-40 linhas. A limitação de espaço o inibe. Ele fica paralisado. As ideias se vão. Quando reaparecem, é tarde. O tempo acabou. “Me dá uma ajudinha?”, pede o garotão. “Claro que sim”, respondemos nós.
Sem mistérios
Escrever é como preparar uma sobremesa gostosa ou uma festa nota mil. Uma e outra não caem do céu. Exigem planejamento e tempo. Para dar uma bela festa, temos de escolher a data, o lugar, os convidados, a bebida, a comida, a música. Depois, bolar e encaminhar os convites, comprar ingredientes, fazer as delícias, contratar garçons, providenciar pratos, copos, talheres e guardanapos. Ufa!
Redigir também dá trabalho. Várias providências antecedem a marcha da locomotiva. Há que delimitar o tema, traçar o objetivo, definir a ideia central, escolher argumentos, buscar uma introdução atraente, descobrir um fecho de ouro. Não é pouco. Mas está ao alcance da mão.
O que é?
Escrever é mandar recado. A receita de uma sobremesa é um recado. O convite para a festa de 15 anos é um recado. O horóscopo publicado no jornal é um recado. A redação da escola é um recado. Ensaios, dissertações e teses também.
Mandamos e recebemos recados todos os dias. A doméstica anota a mensagem para a patroa ausente. O médico prescreve remédios para o enfermo. O professor dá o tema da pesquisa. Você escreve um e-mail para o amigo. Seu colega manda um bilhete pra você. É tudo recado.
O trabalho escolar – de qualquer nível – é recado. Então, por que o frio na espinha? Só de pensar nele as mãos gelam. O coração dispara. O suor jorra. Esses sintomas têm nome – medo. Dois monstros respondem pelo pavor. Um: o que dizer. O outro: como dizer.
Desafio
Sobre o que escrever? Eis o grande desafio. Sem enfrentá-lo, nada feito. Uma ideia vaga na cabeça, a folha em branco e o teclado do computador? Acredite. Só com eles você não chega a lugar nenhum. É preciso pôr os pés no chão. Pensar. E deixar as ideias bem claras.
Guarde isto: você vai escrever um pequeno texto, não um verbete de enciclopédia. O primeiro passo é traçar uma rota. Uma só. Especifique a ideia vaga que tem em mente, restrinja o tema, ponha-lhe limites. Em suma: selecione um item particular no leque de possibilidades.
Escolha
Digamos que o tema seja moda. Ele oferece uma gama enorme de aspectos: a indústria da moda, quanto custa andar na moda, a moda ditada pela televisão, a moda dos anos 60, a moda hippie, a moda do verão, a história da moda, dize-me como te vestes e dir-te-ei quem és, os destaques dos desfiles de Milão, a moda no circuito Paris-Milão-Nova York. Etc. e tal.
Viu? Os tópicos destacam galhos de uma imensa floresta. Mais restrito, o tema se torna mais concreto. Ao se decidir por um, esquecem-se os demais. Concentram-se os esforços no desenvolvimento do eleito.
Olho vivo
A escolha exige cuidados. O mais importante: não fugir do tema. Impõe-se ter certeza de que o aspecto está relacionado com ele. Bem amarradinho. Mais ou menos não vale. Suponha que o tema seja criminalidade. Você optou pelo tópico violência na tevê. Meio fora, não? Deixe-o de lado. Busque um mais claramente ligado ao tema. Por exemplo: relação do consumo de drogas com o aumento da criminalidade.
Resumo da ópera
Definido o rumo, adeus, sensação de que só um livro seria capaz de esgotar o assunto. Diquinha útil 1
Escrever é habilidade como nadar, saltar, digitar. Exige treino. Escreva muito e sempre. Todos os dias. Não se preocupe com a correção. Escreva e jogue no lixo. A prática desinibe a cabeça e solta a mão. Com ela, adeus, sensação de que não há nada a dizer. Adeus, sensação de que só um verbete de enciclopédia pode dar o recado.
Diquinha útil 2
Sobre o que escrever? Sobre qualquer assunto. Você escolhe. Gosta de futebol? Fale sobre a partida que você viu na tevê. Prefere novela? Escreva sobre um aspecto — um personagem especial, uma passagem inesperada, o encontro amoroso. Tem uma quedinha pelo telejornal? Redija sobre o tópico que lhe chamou a atenção.
O importante é escrever — muiiiiiiiiiiiiiito e semmmmmmmmmmmpre.