Adeus, Copa! Vem, eleição. Em outubro, os brasileiros vão escolher presidente, governador, senador, deputado. Não é pouca coisa. Todos devem participar. O Tribunal Superior Eleitoral entrou na disputa. Quer mobilizar os eleitores para que votem. Um dos protagonistas da campanha é Carlinhos Brown. “Sou brasileiro e mando um beijo pra você. Vem pra urna”, convoca o astro baiano.
Show! Mas um pormenor chama a atenção de telespectadores antenados. Trata-se da mistura de tratamentos. Ele fala em você. Mas usa o imperativo vem (tu). Terá se inspirado em propaganda da Caixa? Parece que sim. “Vem pra Caixa você também”, convida o poderoso banco.
Publicidade tem licença poética. A gramática não pode funcionar como camisa de força para a criação. Mas nós, mortais, que escrevemos pra passar no concurso, tirar 10 na prova, conquistar amores e conseguir promoção no emprego, não temos autorização pra pisar a norma culta. O jeito? Só há um — desvendar o mistério do imperativo. Vamos lá?
O manda-desmanda
O imperativo manda, pede, suplica. Pode ser afirmativo ou negativo. A conjugação do afirmativo convoca dois tempos verbais. O tu e o vós saem do presente do indicativo menos o s final. As demais pessoas, do presente do subjuntivo. Assim:
Presente do indicativo: eu venho, tu vens, ele vem, nós vimos, vós vindes, eles vêm Presente do subjuntivo: que eu venha, tu venhas, ele venha, nós venhamos, vós venhais, eles venham Imperativo afirmativo: vem tu, venha você, venhamos nós, vinde vós, venham vocês.
Não, senhor
O imperativo negativo sai todinho do presente do subjuntivo. Assim: não venhas tu, não venha você, não venhamos nós, não venhais vós, não venham vocês.
E daí?
Sem a licença poética, o texto do TSE pode ter duas redações:
1. Sou brasileiro e mando um beijo pra ti. Vem pra urna. 2. Sou brasileiro e mando um beijo pra você. Venha pra urna.