Quem é bobo?

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Bobo é quem pensa que o leitor é bobo. A pessoa que se debruça sobre o jornal exige informação de qualidade. É aí que caminhos se encontram ou se desencontram. Excelência jornalística pressupõe excelência linguística. É com palavras que a apuração chega ao público. Óbvio? Claro que sim. Mas repórteres bobeiam. João Manoel Moreira Aparecida pôs o dedo na ferida de profissionais que não estão nem aí. Ele descobriu esta pérola no Correio:

“Em Guarulhos, de 233 voos, 46 estavam fora de hora, o que corresponde há 19,7% do total”. Em seguida, aparece escrito com todas as letras: “Há poucos metros do estádio, ocorreu o acidente”. Gozador, ele brinca: “O verbo haver foi usado, em ambos os casos, no lugar da preposição a. Para ser coerente com os textos, eu me vejo obrigado `há´ questionar: o que está `há´ acontecer com o português de nossos redatores?”

A resposta

Repórteres tropeçam na língua por duas razões. Uma: ignorância das manhas do português nosso de todos os dias. A outra: pressa. Jornalista escreve sob pressão. Às vezes não tem tempo nem de reler o texto. Na corrida contra o relógio, a matéria fica longe dos olhos dos revisores. Resultado: dá no que dá.

No exemplo apontado por João Manoel, o autor ignorou regra elementar do emprego do haver. Na contagem de tempo, o dissílabo só tem vez ao indicar passado: Cristo nasceu há mais de 2 mil anos. Compramos os presentes há seis meses. Cheguei há pouco. Trabalho aqui há uma década.

Não é passado? Xô, haver! Só a preposição tem vez. Vem, azinho: Chego daqui a pouco. Estamos a poucos dias do Natal. De 233 voos, 46 estavam fora de hora, o que corresponde a 19,7% do total. A poucos metros do estádio, ocorreu o acidente. Eu me vejo obrigado a questionar: o que está a acontecer com o português de nossos redatores?

É isso.