Marcelo Abreu
Um chefe contava a “quase parábola”:
— Existem três tipos de repórteres nas redações:
1 – O superapurador. É aquele capaz de voltar da pauta com a cor do cinzeiro que estava sobre o criado-mudo do quarto do casal assassinado. E percebeu, até, que havia duas xícaras de café quebradas sobre a mesa. Mas, ao escrever a matéria, tem dificuldade em colocar no papel (leia-se, hoje, computador) tudo, tudo que apurou. Perde-se. Não consegue abrir o texto. Aí, como ele apurou bem, o editor (isso, claro, quando o editor é, de verdade, editor) conserta o problema, sem aflição. Como? Entrevista rapidamente o superapurador e escreve o texto. Fácil.
2 – O super-redator. É aquele que apura mal, muito mal, nem sequer viu o cinzeiro sobre o criado-mudo do quarto do casal assassinado. As xícaras de café? Existiam xícaras de café? Mas escreve bem. Aí, o editor apura o que não foi apurado, passa as informações pro repórter (já que ele tem o texto bom) e pede que reescreva a própria matéria.
3 – O gente boa. Ah, o gente boa! É aquele que tem a apuração sofrível. E o texto? Fraquinho, fraquinho. Volta à redação com a matéria toda capenga. Mas é amigo dos amigos. O povo da redação gosta dele (do boy ao motorista). É bom caráter. Aí, o “bom” editor reapura e reescreve a matéria do “gente boa”.
Moral da história: apuração deficiente tem jeito. Texto ruim? Também. E deficiência de caráter? Não tem supereditor que dê jeito. É coisa de DNA. E, nisso, definitivamente, editor nenhum mexe.