Qual é a do S e do Z?

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Ufa! A campanha eleitoral terminou. Dilma Rousseff mereceu a preferência dos brasileiros. Viva! É a primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto. A escolha suscitou curiosidades. Uma: como chamá-la — presidente ou presidenta? O dicionário registra as duas formas. Mas há preferência por presidente. É o caso de chefe e chefa. Ambas as grafias merecem nota 10. Mas nos inclinamos por chefe. Por quê? Talvez chefa soe meio machona.

A outra questão assaltou a Carlota. Ela quer saber por que escrevemos presidente com s, não com z. Trata-se de problema de grafia. Nesse território, há poucas regras. A escrita correta do vocábulo é fruto muito mais de fixação visual que de decoreba. Por isso, quem lê regularmente escreve os vocábulos do jeitinho que o dicionário manda. Às vezes, porém, a dúvida bate. Mas não há dicionário por perto. O que fazer? O jeito é rezar para que as poucas regras existentes quebrem o galho.  

A família se impõe

Uma delas, pra lá de produtiva, vale ouro. Trata-se da todo-poderosa família. As palavras derivadas seguem a primitiva. Umas e outras mantêm a grafia original sem tossir nem mugir: trás (atrás, traseiro, atraso, atrasar, atrasado), casa (casinha, casebre, casarão, caseiro, casamento, acasalar), gás (gasolina, gasoduto, gasoso, gaseificado), cruz (cruzar, cruzinha, cruzada, cruzeiro), exame (examinho, examinador, examinar, examinado).

Olho no infinitivo

Quiser se escreve com s. Fizer, com z. Por quê? Nos verbos, s ou z depende do infinitivo. No nome do verbo aparece o z? Então não duvide. Sempre que o fonema z soar, dê-lhe a vez: fazer (fazes, faz, fazemos, fazem, fiz, fizeste, fizemos, fizeram, fizesse, fizer), dizer (diz, dizes, dizemos, dizem).

Em querer e pôr, o z não aparece. Logo, quando soar o z, escreva s: querer (quis, quiseste, quisemos, quiseram, quiser, quisera, quiseras, quiséramos, quisesse, quiséssemos), pôr (pus, puseste, pôs, pusemos, puseram, puser, pusermos, pusesse, puséssemos). 

A chave do enigma

Por que limpeza se grafa com z e francesa com s? A diferença tem tudo a ver com a formação das palavras. O sufixo –eza dá à luz substantivos abstratos derivados de adjetivos: grande (grandeza), real (realeza), cru (crueza), limpo (limpeza).

A norma vale para o sufixo ez: macio (maciez), lúcido (lucidez), surdo (surdez), mudo (mudez), honrado (honradez), sensato (sensatez), altivo (altivez), lúcido (lucidez), maduro (madurez).

Francesa joga em outro time. É adjetivo derivado de substantivo. No masculino, o s também aparece: Portugal (português, portuguesa), França (francês, francesa), Escócia (escocês, escocesa), burgo (burguês, burguesa), freguesia (freguês, freguesa), campo (camponês, camponesa).  

O sufixo -isar não existe

Guarde isto: o sufixo -isar não existe. Ops! Como explicar a grafia de paralisar, analisar, pesquisar? As quatro letrinhas lá estão, firmes e fortes. E daí? Abra os olhos. O s não faz parte do sufixo. Está no radical da palavra. Analisar, por exemplo, é derivado de análise. Ora, se análise tem s no radical, nada mais justo que a letra se mantenha no verbo. É o caso de bis (bisar), catálise (catalisar), pesquisa (pesquisar), liso (alisar), improviso (improvisar).

Reparou? O is faz parte da palavra primitiva. O verbo se formou com o acréscimo do -ar.

De onde saiu o –izar que aparece em amenizar, capitalizar, humanizar, simbolizar etc. e tal? Os coitados não têm o s para o –ar se agarrar. Precisam de uma ponte. Construíram o iz, que se mantém nos derivados: ameno (amenizar, amenização), capital (capitalizar, capitalização, capitalizado), humano (humanizar, humanização, desumanizado), canal (canalizar, canalizado, canalizante).

Alguns são privilegiados. Têm o z no radical. Nada mais justo que respeitar a família. É o caso de cicatriz (cicatrizar, cicatrização), deslize (deslizar), juízo (ajuizar, ajuizado), cicatriz (cicatrizar, cicatrização), raiz (enraizar, enraizado).