‘‘Trabalhar pra quê?’’, perguntou a manchete do jornal. A questão gerou polvorosa. Leitores estranharam o texto. A turma se dividiu em dois grupos. Um recusava o circunflexo do quê. O outro o aplaudia. E daí? O quê é grande criador de caso. Não cansa de provocar dores de cabeça nos pobres tupiniquins. Recursos não lhe faltam. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Troca de lugar como nós trocamos de camisa. De outro, muda de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade de quem anda pra frente.
Resultado: ele se diverte, nós pagamos o pato. O xis da questão é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
1. quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral: Ele tem um quê de desvairado. Qual o mistério dos quês? A coluna de hoje trata do quê com acento e sem acento. Este quê não me confunde mais. Belo quê você introduziu na redação.
2. Quando o quê for a última palavra da frase — a última mesmo, coladinha no ponto. É o caso da manchete do jornal: Trabalhar pra quê? Riu, mas não disse por quê.Você se atrasou por quê? Cheguei tarde, mas me nego a dizer por quê.
É isso. Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Os leitores que arrancavam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: o diabo não é tão feio quanto o pintam. O quê diz por quê.