Lembra-se da história do gato de botas? O bichano foi deixado de herança para o terceiro filho. O que fazer com o animal que nada produzia? “Um churrasquinho e um agasalho com o pelo barato”, decidiu o infeliz proprietário. Ao descobrir o plano macabro, o gato decidiu agir. Fez dois pedidos. Um: que o rapaz lhe poupasse a vida. O outro: que lhe desse uma bota de sete léguas. Em troca, proporcionaria ao pobretão poder e riqueza.
Assim fez. Graças às botas, corria mais que cavalos árabes. Conseguiu criar situações que favoreceram o casamento do dono com a herdeira do reino. Até hoje, felizes para sempre, eles nadam na fartura conquistada com a esperteza do gato que retribuiu a vida com gratidão.
Ops! A história deixa uma pulga atrás da orelha. O que significa sete léguas? Você sabe? Vamos por partes. Légua é medida de distância em vigor antes da adoção do sistema métrico. O valor dela variava com o tempo, a região, o país. No Brasil, vale mais ou menos 6.600m.
Como quem fica parado é poste, a palavra ganhou sentidos figurados. O mais comum: grande, enorme distância. Daí dizermos “andamos léguas”. Dizemos também “corremos às léguas”, isto é, às carreiras. É aí que o numeral mágico entra. Com o mesmo significado, a expressão “corremos de sete léguas” pede passagem.
A rapidez inspira diquinhas de português. Sete se referem à pronúncia. Com ela, impõe-se atenção plena. Uma vez proferida, a palavra ganha o mundo. Não há como freá-la. “Há três coisas que não voltam mais: uma flecha lançada, uma palavra dita e uma oportunidade perdida”, ensinam os chineses.
A palavra falada
Além da clareza, concisão, simplicidade e sedução, o texto falado exige correção no dizer dos sons. O português arma ciladas que precisam ser tiradas do cominho. Assim:
1. Pronuncie bem todas as letras. Três armadilhas fazem três vítimas:
R final: correr, cair, sentir. S final: vestidos, sapatos, choros. Ditongos: goleiro, sanfoneiro, pioneiro, plateia, cabeleireiro 2. Não acrescente sons em fim de sílabas: advogado (não: adivogado), optar (não: opitar), fez (não: feiz), beneficência, beneficente (não: beneficiência, beneficiente), absoluto (não: abisoluto), aficionado (não: aficcionado), prazeroso (não: prazeiroso). 3. Não troque sons: problema (não: probrema), estupro (não: estrupo), mendigo (não: mendingo), encapuzado (não: encapuçado). 4. Não transforme ditongos em hiatos: gratuito (não: gratuíto), fortuito (não: fortuíto). 5. Não mude a sílaba tônica das palavras:
São oxítonas: Nobel, ruim, recém (recém-casado), mister, novel. São paroxítonas: pudico, rubrica, seniores, ibero, avaro, recorde. São proparoxítonas: hétero, anátema, amálgama, protótipo. 6. Não confunda a terminação dos verbos terminados em -uir: a terceira pessoa do singular do presente do indicativo termina com i ele possui, ele contribui, ele retribui, ele diminui, ele atribui (não: possue, contribue & cia. indesejada). 7. Não presenteie formas dos verbos terminados em -ear com o i: passear, frear, cear & cia. têm um capricho. O nós e o vós dos presentes do indicativo e subjuntivo dispensam o izinho que aparece nas demais pessoas. Dê-lhe crédito: eu passeio, (freio, ceio) ele passeia (freia, ceia), nós passeamos (freamos,ceamos), vós passeais (freais, ceais) eles passeiam (freiam, ceiam).