Lia, professora da rede pública de ensino, convive com velha e conhecida realidade. Boa parte dos alunos escrevem mal. Falta-lhes desenvoltura na exposição das ideias. “Por quê?”, pergunta ela.
Há muitas razões. Uma delas: pouco convívio com a escrita — lemos pouco (1,8 livro por ano; na França, 5) e escrevemos pouco. O sistema escolar precário oferece pouca oportunidade de redigir (média: 4 redações anuais).
Ler e escrever são habilidades. Como nadar, correr ou digitar, desenvolvem-se com treino. Cesar Cielo não é campeão porque fica na frente da TV vendo os outros disputarem milésimos de segundos na água. Ele pratica 15 horas por dia. A secretária digita 400 toques por minuto porque desafia o teclado há anos. Atletas correm 100m em um minuto porque testam os limites todos os dias.
Lê-se e escreve-se bem quando se lê e se escreve muito e sempre. Jornalista conclui reportagem de duas páginas em uma hora porque faz isso todos os dias desde tempos idos e vividos. Quando se lê, internalizam-se as estruturas da língua. Quando se escreve, desinibem-se a mão e a cabeça. As ideias correm soltas. A mão acompanha. O trabalho de reescrever e refazer é consequência natural.