Pequeno é bom. Menor é melhor

Publicado em Geral

 
Um mundo novo bate à porta. Não é qualquer mundo novo. Trata-se do mundo novo de alta tecnologia. Mais precisamente: o mundo das comunicações. Segundo especialistas que olham lá na frente, as mensagens terão no máximo 140 caracteres. O que é isso? São 140 toques no computador, contados os espaços. É este tamanho: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.
  O miserê se explica. Cada vez mais a gente vai receber e mandar recados pelo celular. Como abrigá-los no visor? A receita é uma só — usar o metro e a tesoura. O metro para medir o tamanho de palavras e frases. A tesoura para cortar as compridonas sem piedade. No caso, vale a regra: pequeno é bom, mas menor é melhor.
 
  Moda antiga
  Não é de hoje que a língua enxuta está na moda. Há muito tempo grandes empresas se preocupam com a economia verbal. Elas precisam se adaptar aos novos tempos pra sobreviver. Por isso não ficaram só nas encucações. Passaram da teoria à prática. Uma das saídas encontradas chama-se LUT.
  As três letrinhas são a sigla de lição de um tema. O desafio: os empregados da organização devem ser capazes de explicar qualquer tarefa em um minuto. Não há discriminação. Todo assunto pode ser objeto do exercício. Como tirar o papel embolado da impressora? Como ligar o computador? Como preencher o formulário? Como configurar um software? Como escrever e-mails? Como reciclar o lixo?
  Etc. Etc. Etc.
  A tarefa dá trabalho. O poder de síntese não cai do céu, nem salta do inferno. Exige treino, desapego e pão-durismo. É como escrever um telegrama. A gente paga por palavra. Com a grana curta e a sensibilidade do corpo, a regra número 1 é cultivar a economia verbal. Prepare a tesoura.
  Xô, falação
  Vamos submeter este texto a lipoaspiração? Lápis na mão, leia-o três vezes. Assinale as palavras que podem cair fora. Depois, corte-as. Por fim, reescreva a mensagem enxutinha, enxutinha:
Como todo mundo deve sabe, hoje em dia todos os profissionais devem tentar escrever suas mensagens diárias com substantivos fortes e verbos precisos. Devem se esforçar o máximo possível para livrar-se de adjetivos, advérbios e os muitos penduricalhos.
  Ops! Quanta falação! O excesso pune o leitor duas vezes. Uma: obriga-o a gastar mais tempo na leitura. A outra: esconde a idéia central. Vamos à operação limpeza? Ela segue três passos — cortar, cortar, cortar. Mãos à obra:
1. Ora, se todo mundo sabe, não precisa dizer. Vem, tesoura:
Hoje em dia todos os profissionais devem tentar escrever suas mensagens diárias com substantivos fortes e verbos precisos. Devem se esforçar o máximo possível para livrar-se de adjetivos, advérbios e os muitos penduricalhos.
  2. Os psicólogos são claros. Quem tenta não faz. Vai fazer? Deixe o tentar pra lá: Hoje em dia todos os profissionais devem escrever suas mensagens diárias com substantivos fortes e verbos precisos. Devem se esforçar o máximo possível para livrar-se de adjetivos, advérbios e os muitos penduricalhos.
  3. As palavras essenciais são os substantivos e verbos. São eles que dão o recado. Adjetivos, advérbios e certos pronomes merecem cartão vermelho:
Os profissionais devem escrever mensagens com substantivos e verbos. Devem se esforçar para livrar-se de adjetivos, advérbios e penduricalhos.
  4. Não paremos aí. O texto é uma ordem. Que tal dar-lhe a forma imperativa?
Profissionais, escrevam mensagens com substantivos e verbos. Livrem-se de adjetivos, advérbios e penduricalhos.
  5. Quer mais? Vá em frente. O singular no vocativo poupa letras:
Profissional, escreva mensagens com substantivos e verbos. Livre-se de adjetivos, advérbios e penduricalhos.
  6. Que tal cortar as últimas gorduras? Há jeito:
Profissional, escreva mensagens com substantivos e verbos — sem adjetivos, advérbios e penduricalhos.
Valeu.