João Marcelo escreve: “Uma bem-intencionada frase apareceu no mural do refeitório da empresa. ‘São para as pessoas mais fortes que Deus concede mais desafios’, proclamava a dita cuja. Fiquei espantado com o ‘são’, dispensável e errado.
Mais espantado fiquei com a reação dos colegas. Por mais que eu argumentasse que o verbo ser não deveria concordar com ‘pessoas’, continuei isolado. Pensei em outro exemplo. Para ser convincente, mudei a posição do verbo: Para quem é que você vai dar as laranjas?
Qual o quê! A situação piorou. Eram todos contra um. Impotente diante da unanimidade, interrompi a discussão. Fiz de conta que estava vencido. Foi mentirinha. Queria ganhar tempo para recorrer ao blog. Socoooooooooooorro!”
Tamanho não é documento. Que o diga o verbo ser. Com apenas três letras, ele dá trabalho que só. Na concordância, a gramática lhe concede um capítulo à parte. É privilégio único. Só dele. Não estranha, por isso, a confusão dos colegas do João Marcelo. Eles misturaram duas estruturas.
Uma: A locução de realce é que. Invariável, a monótona não muda de cara. Ela tem um único papel – dar ênfase à declaração. Mas sua vida depende do humor do falante. Penetra, a sem-convite pode ser expulsa: Nós (é que) somos brasileiros. Para quem (é que) você vai dar as laranjas? (É) para as pessoas mais fortes (que) Deus concede mais desafios.
A outra: construção em que o verbo ser antecede o sujeito. Aí, a concordância pede passagem: São as pessoas mais fortes as que enfrentam os desafios. (As pessoas mais fortes são as que enfrentam os desafios.
É isso. Lé com lé, cré com cré. Cada sapato no seu pé.