Pedaço meu

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Cântigo Negro é o poema que gostaria de ter escrito. Fernando Pessoa chegou primeiro. Coube-me, enfim, este, bem mais modesto, porém pleno de arrojo e paradoxalmente, de desmedido temor.(Maria Bethânia)

Pedaço meu Fecho os olhos e sinto o cheiro da tua pele. Sem abri-los, recosto-me no sofá e percebo tua presença ao meu lado. Eu te abraço e teus seios reconhecem as minhas mãos.

Tuas costas nuas roçam de leve nos pelos de meu peito e ficamos os dois com a pele arrepiada.

Tu te voltas e te ajoelhas de frente para mim. Teu hálito quente acaricia meus olhos enquanto tuas mãos longas e magras se apoiam em meus ombros.

Escutamos apenas o silêncio de nossas respirações.

O bico de teu seio encosta em meu queixo, oferecendo-me o mais improvável alimento, o mágico elixir que me levará ao mais encantado dos mundos.

Intuo quais são as tuas feições, mas essa imagem não se confirma ao toque de meus dedos. Tampouco consigo avaliar se és alta ou baixa.

Gostaria de te conhecer. Saber o teu nome. Descobrir onde moras. Mas sei que quando abrir os olhos tu já terás ido.

(Colaboração de José Carlos Cancelli)