Querida Dad,
Ando preocupado. Algumas palavras, boas palavras, fáceis de usar, gostosas de pronunciar – estão sumindo!
Quer um exemplo? A palavra “incluído”. Nunca mais vi essa moça por aí, temo que foi vítima de algum grupo de extermínio. Começaram a usar “incluso” pra tudo. E a pobrezinha da palavra “incluído” desapareceu. Tem alguma notícia dela? Se a vir, dê-lhe um abraço em meu nome e diga a ela que meu apartamento é pequeno, mas sempre dá pra abrir um colchonete e acomodá-la por aqui, até fazer bom tempo e essa perseguição acabar.
Ainda ontem me dei conta de que outras palavrinhas, tão amigas, tão cordiais, correm o mesmo risco de “incluído”. Fui pedir para me retirarem de uma destas listas de spams da internet, onde tentam nos vender atlas jurídicos e remédios infalíveis para aumentar o tamanho do pingolim da gente (do meu não há queixas, sempre obtive boas avaliações, embora ele não seja, assim, nenhuma brastemp, mas tem dado pro gasto). Viu só?, distraí-me, perdi o fio da meada.
Mas (lembrei-me!), falava que ando apreensivo porque há outra palavra na lista das ameaçadas de extinção (e o Ibama, que não toma uma providência? Palavras, como bichos, são seres vivos e muito importantes para o futuro do planeta, não acha?). Olha eu de novo esquecendo o fio da meada. Mas agora não me foge mais. Pois recebi, como resposta ao pedido de retirada de meu nome da lista de spams, que meu e-mail tinha sido “excluso”. Nem sei se existe essa coisa feia aí. E, olha, Dad, nunca me queixei da boa e velha “excluído”, palavra boa, honesta, uma paroxítona porreta que sempre cumpriu o que prometeu.
O que fazer, querida Dad? Será que devemos escrever ao Carlos Minc, pedindo uma providência? No mínimo ele vai convocar uma coletiva pra mostrar um colete novo em que escreverá as palavras em risco de extinção… Quem sabe o Obama possa fazer alguma coisa. Ouvi dizer que ele vai resolver TODOS os problemas do mundo, capaz de se compadecer da gente e dar uma mãozinha, né não?
Ah! Tive uma idéia. E se a gente escrever diversas vezes essas palavras ameaçadas em pequenos cartões e plantá-los aí pelos jardins, será que as palavrinhas vão nascer e se reproduzir? Heim? Hum?
Enfim, não sei o que fazer. Por isso recorro a você que conhece os caminhos dessa nossa língua linda e tão maltratada. E olha que nem citei uma palavrinha que sempre me fez bem ao bolso e à alma – a palavra “desconto”. Pois igualmente anda sumindo. Já desapareceu por completo das vitrinas, substituída por uma tal de “off”, que chegou das estranjas com o charme dos produtos importados, foi ficando, ficou.
Não é de se preocupar, minha boa e bem humorada amiga Dad?
Um beijo grande e saudoso.
PJ