Parece, mas não é

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Luís conquistou o respeito dos colegas na escola e no trabalho.  Atento leitor, exige texto perfeito. Nada lhe escapa. Descobertas as falhas, corre atrás da forma correta. Na segunda, ele leu esta frase: “O proprietário reavê as joias”. Arrepiou-se. Mais um descuidado tropeça no reaver. É que o verbo arma baita cilada. Nela, acidentam-se as melhores famílias. Jornalistas também.
   

Você consegue identificar a falha que enfureceu o Luís? Assinale-a nas opções abaixo:

a. Ao escrever ‘reavê’, o repórter desconheceu a origem do verbo. Pensou que reaver fosse derivado de ver (eu vejo, ele vê).
b. O significado de reaver não é adequado à frase. Recuperar cai melhor.

E daí?

Reaver parece derivado de ver. Mas não é. O pai dele é haver. O danadinho significa haver de novo. Em outras palavras: recobrar, recuperar. Por isso se fala em reaver o tempo perdido, reaver os bens, reaver a amizade.

Tal pai, tal filho    

Filho de peixe sabe nadar. Reaver só se conjuga nas formas em que o v, de haver, aparece. Nas demais, o mocinho não tem vez. O presente do indicativo tem duas pessoas. Uma: reavemos. A outra: reaveis.

Sem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, o presente do subjuntivo inexiste. Não caia na esparrela do ‘reaveja’. Em vez desse horror, diga recupere, recobre.
 

Olho vivo

O perigo mora no pretérito perfeito. Os distraídos o flexionam como se o pobrezinho descendesse de ver. Não falta quem escreva ‘reaviu’. Ora, o pretérito perfeito de haver é houve. Daí reouve, reouveste, reouve, reouvemos, reouvestes, reouveram.

Os demais tempos e modos são moleza: reavia, reavíamos, reaviam; reouvera, reouveras, reouveram; reaverei, reaverás, reaverá; reaveria, reaveríamos, reaveriam. E por aí vai.

Teste

O particípio de reaver está pra lá de certo em:

    a. Talvez ele tenha reavisto as joias roubadas.
    b. Talvez ele tenha reavido as jóias perdidas.

Acertou?
   

Moleza, não? O particípio de haver é havido. De reaver, reavido.