Maria olhou pro Paulo. Paulo olhou pra Maria. Foi amor à primeira vista. Um mundo de promessas se abria na vida dos dois. Vênus, Oxum, Cupido, os deuses conspiravam para o encontro.
Ele sorriu pra ela. Ela sorriu pra ele. Encorajados, homem e mulher se aproximaram. O papo correu solto. Caminharam pelo shopping. Olharam vitrinas. Comentaram esta ou aquela oferta. Ao chegarem perto do McDonald’s, ele a convidou galante:
— Vou estar pagando um lanche pra você. Que tal?
— Vai o quê?, perguntou ela irritada.
A ficha caiu. Ele se lembrou de lição do pré-vestibular. Sempre que um aluno soltava a pérola vou + estar + gerúndio, o professor interrompia a aula e punha os pontos nos is:
— Você tropeçou no gerundismo. Essa forma não existe em português. Chegou até nós trazida pelas traduções malfeitas do inglês. Aos pouquinhos, virou vício. Há gente que só diz vou estar mandando, vou estar providenciando, vou estar podendo fazer. Cruz-credo!
Sério, o mestre continuava:
— A penetra quer substituir o futuro. Mal sabe ela que o porvir, no idioma de Camões, tem duas formas. Uma é o futuro simples (eu irei, tu irás, ele irá, nós iremos, eles irão). A outra, o futuro composto (eu vou sair, tu vais sair, ele vai sair, nós vamos, sair, eles vão sair).
Paulo olhou pra parceira com sedução. Depois, caprichando no futuro, repetiu o convite:
— Vou pagar um lanche pra você. Que tal?
— Vou adorar. O que comeremos?
— Eu vou comer o mesmo que você. Escolha.
Conclusão pragmática: o gerundismo é a melhor receita para acabar um grande amor.