Palavras vadias

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Vadio tem sinônimos. Um é ocioso. Outro, desocupado. Pode ser vagabundo. Ou à toa. Todos têm um significado comum. É falta de ocupação. Sem ter o que fazer, a criatura vagueia, anda ao acaso, perambula, besta o dia inteiro. Lembra a velha história do vira-lata. Num programa de adivinhação, perguntaram ao bêbado:

— ­ Por que o cachorro entrou na igreja?

— ­ Porque encontrou a porta aberta.

— ­ E por que saiu?

— Porque entrou.

A vadiagem não constitui privilégio de homens e bichos. Também freqüenta a língua. São palavras ou expressões que aparecem na frase sem convite e sem função. O número das inúteis cresce sem parar. Dia a dia aparecem novidades. Duas estão na última moda. Uma delas é chamado. A outra, outro. À toa, as duas figuram em enunciados. Como tudo que ocupa espaço só para aparecer, sobra.

Moda 1

Pessoas, coisas, fenômenos e instituições têm nome. São por ele designados. Brasília é Brasília. Lula é Lula. Chuva é chuva. Por alguma razão inexplicável, porém, uma praga passou a anteceder nomes consagrados. Brasília não é mais Brasília. É a chamada Brasília. Lula deixou de ser Lula. Virou o chamado Lula. E por aí vai.

Outro dia, o Correio Braziliense deitou e rolou. Íntimo do modismo, escreveu: “Para Sarney, os poderes da chamada democracia representativa vêm diminuindo. E crescem os poderes da chamada sociedade civil organizada”. Reparou? As duas penetras sobram. O texto pode muito bem viver sem elas.

Moda 2

“­ No ataque, 15 pessoas morreram e outras 20 ficaram feridas.” É só o que se ouve em rádios e tevês. Vale a pergunta. Na frase, pode-se confundir mortos com feridos? Não. Rua, outras.