Ninguém sabe, ninguém viu
Dad Squarisi
Vale a pena ver de novo? Nãooooooooooooooooooo!, responderam os brasilienses. Quem pôde partiu pra outra. Zapeou pra teve a cabo. Quem não pôde teve de se conformar. Acostumado a programinha na hora do almoço, deu a vez à inércia. Manteve o aparelho ligado. Roriz apareceu. “Sou candidato”, frisou antes do desfile de obras.
Ops! Nota ocupa a tela. Avisa que o homem está impugnado. Vem Agnelo. Avia a mesma receita. Mostra os feitos e faz promessas. “Experiente, determinado e preparado”, promete novo caminho para Brasília. O que é isso? Ninguém sabe. Ninguém diz. Os demais candidatos não fogem à regra. Que soooooooooono!
Vêm os postulantes à Câmara Legislativa. Adeus, monotonia. Há oferta pra todos os gostos. Oferecem-se pastores, médicos, professores, ambulantes, videntes, barraqueiros. Eles vendem o peixe. Uns o embalam pra presente. Outros o entregam em sacola de supermercado. Todos são bem-intencionados. E poderosos.
As propostas se parecem. Vão revolucionar a educação, a saúde, a segurança, o transporte, a habitação, o mercado de trabalho. Querem porque querem salvar a capital. Em bom português: tirar a cidade das páginas policiais e devolvê-la às páginas da política. O que é isso? Como chegar lá? Ninguém sabe. Ninguém diz. Joãosinho Trinta abre o jogo: “Não sou político. Quero trabalhar com você”.
Muitos foram reprovados no curso primário. Ou fizeram um primário malfeito. Além de pisar sem piedade concordâncias e regências, tropeçam na grafia. A língua se desespera. Bem-estar procura o hífen que Wagner Dantas comeu. Estrutural busca a dignidade do nome próprio que Agnelo ignorou. A vírgula pede lugar no vocativo que Rodrigo Dantas esnobou “Fora, Timothy” e “For a, Arruda”.
Etc. Etc. Etc.
Este ou aquele? O programa não ajuda a encontrar a resposta. O eleitor continua nas mesma. “Entre maçãs iguais”, conclui ele com Shakespeare, “a margem de escolha é pequena.”