Palanque eletrônico 21

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Entre beijos e tapas

Dad Squarisi

Acabou? Que pena! Adeus, ilha da fantasia. Adeus, promessas! Adeus, abraços e beijos. Adeus, povo protagonista — gente risonha, que fala alto e dá palpites. Melhor: é ouvida. Melhor ainda: é mais respeitada que o Oráculo de Delfos.

Não há dúvida. O Brasil é a sucursal do céu. Em cinco semanas de exibição, o programa eleitoral mostrou tanta perfeição que lembrou a história dos dois amigos que foram pro paraíso. No início, era bom. Mas o tempo passou. A companhia de santos e anjos ficou chatíssima. Resultado: eles pediram ao Senhor que os mandasse pro inferno.

Nós não chegamos a tanto. O país manteve o status de sucursal. Para tornar-se matriz, faltou um passo — fazer as pazes com o português. O show de ontem serve de prova. Entre beijos no povão e tapas na língua, duas pancadas se destacaram. Ambas trazem o número 13.

Uma machuca os ouvidos. Com voz empostata e cheia de vibração, a locutora anuncia creche “gratuíta”. “Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!”, gemeu o telespectador desavisado. No entusiasmo, a moça se esqueceu de pormenor pra lá de importante. Gratuito rima com circuito e fortuito. Ditongo, o ui não se separa nem a pedido de Lula e Dilma.

Enquanto o eleitor tratava a otite, veio a outra surra. A telinha reproduziu a fala da apresentadora: “Fui à Fortaleza”. Valha-nos, Deus! A crase nos fez cair na real. Estamos na velha Pindorama de Pedro Álvares Cabral. Volta, programa!