Tango argentino
Dad Squarisi
Oba! No programa eleitoral, Joaquim Roriz. Pele bronzeada, dentes à mostra e voz mansa, ele fala música para o povão. “Ninguém pode morar debaixo da ponte. Ninguém pode viver sem emprego. A barriga não espera.” E dê-lhe obras. E dê-lhe povo. E dê-lhe idolatria. É Roriz no céu e Roriz na Terra.
Bocas o beijam, braços o abraçam, corações o adoram. Todos querem tocá-lo. Alguns pra receber bênçãos. Outros pra comprovar que o homem é humano. Seria ele feito de carne, osso e sangue como os mortais? A dúvida só se desfez quando Joaquim voltou ao passado.
Em tempos idos e vividos, ele economizava esses e erres. Pão-duro, não desperdiçava plurais. Hoje, esbanja concordâncias e regências. Seria a mesma pessoa? Numa passagem, o ex-governador devolve a tranquilidade aos incrédulos:
— A diferença entre eu e meu adversário é minha experiência.
Ah!, suspiram todos. Trocar o mim por eu? É ele mesmo. Graças a Deus! Etc. Etc. Etc. Mas eis que pinta o desmancha-prazeres. Nota da coligação do Agnelo ocupa a telinha. Informa que o STF manteve a impugnação da candidatura rorizista.
Alguém espalha o terrorismo. Jura de pés juntos que Roriz prepara um golpe. Renunciará. Mas o nome e a cara dele estão na urna eletrônica. Elegendo-o, elegeremos outra pessoa. Quem? Entra o plantão da TV: “Roriz abre mão da disputa. Em lugar dele entra dona Weslian Roriz”.
Ops! O homem voltou ao passado. Inspirou-se em Juan Domingo Perón, que indicou a mulher para vice-presidente. Ele foi desta pra melhor. Ela assumiu. Vale a questão: Roriz toca um tango argentino. Os brasilienses vão dançar?