Politiqueira & outras eiras
Dad Squarisi
Você reclama? Não devia. Chora de barriga cheia. Claro que o programa eleitoral lhe invade a casa sem ser convidado. Pior: ocupa o lugar da novelinha. Em vez de Tony Ramos, Fernanda Montenegro, Cláudia Raia, ninguém menos que Roriz, Agnelo, Toninho & cia. É dose. Desce quadrado.
Mas existe o outro lado da moeda. Os 50 minutos diante da TV ampliam a cultura linguistica. Além de vocativos, tautologias, sofismas e tantos conceitos bacanas, sufixos fazem a festa. Um deles: eiro. Candidatos dizem que a propaganda eleitoreira desinforma. Quem diria, hem? Liçãozinha vira-lata da escola primária ganha o horário nobre e vira tema de discussão.
O -eiro tem um montão de significados. Um deles: indica origem. É o caso de mineiro (quem nasce em Minas). Outro: ocupação, ofício (copeiro, barbeiro). Mais um: lugar onde se guarda algo (galinheiro, tinteiro). Ainda: ideia de intensidade (nevoeiro, poeira). Mais: noção coletiva (berreiro, formigueiro).
E eleitoreiro? Ah, a criatura deprecia. Apresentar proposta eleitoreira não enriquece currículo. Ao contrário: demonstra que o pidão só pensa em si. Na caça aos votos, não está nem aí para os interesses da comunidade. É aquela coisa — primeiro eu. Depois eu. Se sobrar espaço, eu também.
Eleitoreira tem coleguinhas. A mais íntima é politiqueira. Refere-se aos caça-mandatos que adoram politicagem. Quem? Este aqui. Esse aí. Aquele lá. Ops! Pernas pra que te quero!