Dad Squarisi // dadsquarisi@diariosassociados
Dois touros lutavam furiosamente pela posse exclusiva de certa campina. Eram chifradas pra cá e coices pra lá. Mugidos se ouviam de longe. Sangue ensopava o chão. À beira do brejo, as rãs novas se divertiam com o espetáculo. Uma rã velha, porém, suspirou:
— Não se riam, que o fim da disputa vai ser doloroso pra nós.
— Que tolice!, exclamaram as rãzinhas. Você está caducando, rã velha.
A rã velha se explicou:
— Brigam os touros. Um deles há de vencer e expulsar da pastagem o vencido. O que acontecerá? O animalão surrado vem meter-se em nosso brejo. Ai de nós!
E assim foi. O touro mais forte encurralou no brejo o mais fraco. As rãzinhas deram adeus ao sossego. Inquietas sempre, sempre atropeladas, raro era o dia em que não morria alguma sob os pés do bicharoco. Brigam os grandes, pagam o pato os pequenos. Quer melhor carapuça? A fábula ilustra o hoje deste Brasil brasileiro. Os grandes da República se digladiam. Batem boca. Armam barracos. Lavam roupa suja ao vivo e em cores.
Há seis meses, o Senado expõe entranhas pouco saudáveis. Começou com os desmandos administrativos de Agaciel & cia. Evoluiu para denúncias contra senadores. Chegou a agressões pessoais em plenário. Tasso Jereissati, Renan Calheiros, Heráclito Fortes, Eduardo Suplicy protagonizaram vexames que deixaram vermelhos os tapetes azuis da Casa.
Outra vergonheira vem da Receita Federal. A ex-secretária acusa a chefe da Casa Civil de pressão política. Dilma Rousseff a teria recebido secretamente. No encontro, teria feito um pedido: apressar a tramitação dos processos contra Fernando Sarney. Ela inferiu que a ministra queria engavetar o processo. Dilma nega. Jura que não houve o encontro. No meio do tiroteio, expõem-se podres da Receita. Entre eles, aparelhamento do órgão, pressões do andar de cima para punir uns e aliviar outros.
Enquanto isso, no brejo das rãs, rãzinhas morrem de rir da exposição de Suas Excelências e Suas Senhorias. Mas rãs velhas choram diante da tragédia. Elas sabem que sobrará pra nós. Projetos não serão votados. Educação, saúde, segurança continuarão na UTI. Sonegadores aproveitarão o vácuo pra deitar e rolar. Com a arrecadação em baixa e gastos em alta, vem aí a velha CPMF rebatizada de CSPS — Contribuição Social para a Saúde.