Havia seis artes. Seis? Não era número cabalístico. Como chegar ao sete? Em 1911 Ricciotto Canudo escreveu o Manifesto das sete artes. Os entendidos protestaram. Não adiantou. A grande novidade da época abocanhou a denominação. O cinema tornou-se a sétima arte.
O esperneio se explica. Trata-se do signo particular que cada uma utiliza. A música fica com o som. A pintura, com a cor. A escultura, com o volume. A arquitetura, com o espaço vazio. A literatura, com a palavra. A dança (coreografia), com o movimento. E o cinema? Sem cerimônia, a sem-signo próprio misturou todos. O jeito foi concordar.
A língua também faz pactos. Um deles: a concordância. Para conviver com harmonia, estabeleceu hierarquias. O sujeito e o predicado são os mandachuvas. Na flexão do verbo, o sujeito dita as regras. Muitos ignoram o trato. Cometem pecados. Sete deles se destacam.
Sujeito posposto
O português é flexível. Permite que os termos passeiem na frase. O vaivém, porém, não muda as regras. O verbo continua vassalo. Concorda com o sujeito em pessoa e número. Mas nem todos se dão conta da mudança de posição. Quando o sujeito aparece depois do verbo, é tropeço certo. Veja um exemplo:
Na rua onde eu morava, passava meninos de bicicleta.
Ops! Se o sujeito estivesse na frente do verbo, ninguém se machucaria: Na rua onde eu morava, meninos de bicicleta passavam.
Voz passiva
A passiva sintética (construída com o pronome se) é outra tentação. Veem-se, a torto e a direito, placas com “vende-se frutas” ou “aluga-se casas”. Perdoai-nos, sujeitos! Senhor, mostrai-nos o caminho da salvação. Ei-lo: construa a frase com o verbo ser. Se o danadinho ficar no plural, o da passiva sintética vai atrás. Se no singular, idem: vendem-se frutas (frutas são vendidas), alugam-se casas (casas são alugadas), constrói-se muro de pedra (muro de pedra é construído).
Ou
O ou joga em dois times. Ora inclui. Ora exclui. Olho vivo! Se mais de um sujeito pode praticar a ação, é a vez do plural: Um ou outro artista compareceram à festa (nada impede que mais de um artista apareça).
O perigo mora na exclusão. Aí, só um pode reinar. O verbo tem de concordar com ele. É o caso de “Pedro ou Luís será presidente do clube”. Só há uma vaga? O singular pede passagem.
Um dos que
Expressão-gilete, um dos que corta dos dois lados. Topa o singular e o plural. Moleza? Nem tanto. O singular é egoísta. Diz que a ação se refere a um só sujeito: O Tietê é um dos rios da capital paulista que deságua no Paraná. (Só o Tietê deságua no Paraná.) João é um dos candidatos à presidência que ataca o antecessor. (Há vários candidatos. Só João ataca o antecessor.)
O plural joga em outro time. Informa que a ação se refere a mais de uma criatura: João é um dos candidatos à presidência que atacam o antecessor. (Vários candidatos atacam o antecessor. João é um deles.)
Partitivo
Partitivo é parte de um todo. Há expressões partitivas — parte de, uma porção de, grupo de, o resto de, a metade de, a maioria de. Etc. e tal. Quando seguidas de complemento plural, o verbo se esbalda. Pode concordar com o núcleo do sujeito ou com o complemento: A maioria dos candidatos se endividou (se endividaram) na campanha. Metade das frutas apodreceu (apodreceram). A maioria da população do Rio sofreu com as chuvas.
O mais possível
Possível é adjetivo. Concorda com o substantivo (acordo possível, acordos possíveis). O problema pinta na expressão “o mais…possível”. Quando flexionar o trissílabo? Olho no artigo. Possível concorda com ele: Mulheres o mais elegantes possível. Mulheres tentadoras o mais possível. Os maiores esforços possíveis.
Quem
Fui eu quem comprei o livro? Fui eu quem comprou o livro? Ah! O verbo morre de paixão pelo quem. Mas tem cintura flexível. Se exigirem, concorda com o pronome pessoal: Fui eu quem comprou o livro. Fui eu quem comprei o livro. Fomos nós quem compramos o livro. Fomos nós quem comprou o livro. Foram eles quem compraram o livro. Foram eles quem comprou o livro.
Ufa!