Dad Squarisi /// dadsquarisi.df@@diariosassociados.com.br
Hora de verão? Ora, ora! Ela divide o Brasil em dois. De um lado, o que adianta o relógio. O Distrito Federal e os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste incluem-se aí. De outro, o que mantém os ponteiros na rota natural. Norte e Nordeste pedem passagem. Sempre atual, o tema suscita discussões. Há os que o apreciam. Chegar em casa com sol é uma boa. Há também os que o detestam. Acordar uma hora mais cedo obriga muita gente a começar o dia no escuro. Que chato!
O relógio biológico não quer saber dos caprichos humanos. O corpo reclama. A cabeça se confunde. Estudantezinhos padecem. Querem esticar o sono gostoso, mas não podem. E lá vai banho quente pra despertar. Com o tempo, o hábito vence. E até os descontentes se esquecem da mudança. Passados 126 dias, porém, fica o feito pelo não feito. Os ponteiros do norte e do sul se harmonizam. Impõe-se, então, a reorganização interna.
Muitos invejam os moradores do outro Brasil. Imaginam que a vida lá corre sem transtornos impostos por burocratas de Brasília. Enganam-se. Oficialmente eles não têm hora de verão. Mas a realidade é outra. Têm. Os coitados precisam se adaptar aos ponteiros do decreto presidencial. As companhias aéreas se regem pelo horário novo. (As viagens têm de ser adiantadas uma hora.) As telefônicas também. (As tarifas mais baratas olham para o relógio adiantado.) As televisões não ficam atrás. Telejornais, novelas, jogos de futebol são transmitidos ao vivo segundo o mostrador do Brasil de baixo. O país passa a ter duas morais — uma para o centro-sul e uma para o norte-nordeste. Programas não admitidos no horário para o sul difundem-se francamente no norte.
Vale a pergunta: numa época de muita chuva e reservatórios cheios, não há escassez. É necessária a mudança? A pergunta tem duas respostas. O governo diz que sim. Desconcentra-se o consumo de energia e se faz alguma economia — algo em torno de 0,5%. Os opositores contestam. É que, começando mais cedo, despreza-se a luz do sol para usar energia elétrica. Quem tem razão? Talvez os dois.