Sandro Xavier
Por vezes, encontramos palavras dirigidas ao revisor ou comentando o trabalho desse profissional em artigos de jornal, em páginas de internet, em cartas de leitores e outros meios. Sei que você já deparou com isso alguma vez. Mas e palavras do próprio revisor?
E-mails para redações com títulos como “cochilo da revisão” são muitos. Mas a confecção de jornal não é simples, além disso, não dispõe de tanto tempo como livros. O processo é dinâmico, exige agilidade porque se escreve em um dia para ser distribuído no outro. Não há tanto tempo disponível e, por isso, muitas páginas não conseguem passar pela revisão.
Em uma situação, alguém, ao saber que sou revisor do Correio Braziliense, morreu de rir por ter lido a palavra “muçarela”, a qual pensava ser grafada com “ss”. Eu só disse que esse tipo de erro acontecia. A chacota me tirou a vontade de informar que a palavra estava correta.
Há também avisos de leitores dizendo que encontram “inúmeros erros”, mas não os apontam. Certamente há críticas como a do personagem acima. Contudo, a maioria das cartas ao revisor tem razão. O que espanta é a maneira como se comentam os erros em uma publicação. Os recados são eivados de desqualificação do profissional de revisão e dos jornalistas. Repito, no processo que é muito rápido pode haver falta de adequação. E, em uma leitura rápida, algumas particularidades passam despercebidas, infelizmente. O revisor é um personagem quase invisível, um leitor silencioso, que fica nos bastidores do texto. À exceção dos casos em que o crédito do trabalho lhe é dado no expediente da publicação, sua presença não será notada. Mas há uma ocasião em que esse personagem discreto será, sem dúvida, lembrado: quando “passa” um erro no texto.
Há quem lhe envie recados, no próprio texto, solicitando do “senhor revisor” atenção a aspectos específicos da redação. Como se ele algum dia fosse responder da mesma forma. Há também quem acredite que o revisor é um escritor frustrado. Corrige – “mete a caneta vermelha” – texto de outros porque não tem competência para escrever. Já li isso de alguém até de certa forma aproximado. Comentei o que escreveu. Não me respondeu até hoje. Eu, por exemplo, reviso e escrevo também. E sempre peço para outro revisor ler meu texto. Preciso, sim, da opinião de outro leitor para saber o que ele entende do que escrevi e adequar se for preciso. É uma covardia dirigir-se a alguém que não pode responder no mesmo veículo. Especialmente se as pessoas que leem possam ter uma visão desse indivíduo que não é a verdadeira. E não é!
Ao revisar, sempre levo em consideração duas coisas: 1. Que a pessoa que escreveu, meu companheiro de trabalho, não seja alvo de chacotas por parte de pessoas que procuram erros e tentam responder não para ajudar, mas para desqualificar quem escreve e, consequentemente, o veículo de informação – o jornal; e 2. Que o leitor possa compreender perfeitamente o que se está tentando dizer. Isso é o mais importante! Isso deve estar acima de qualquer orgulho de estilo por parte de quem escreve. Afinal, sem leitor, nem precisamos escrever! Portanto, não é com prazer de tortura que a caneta vermelha passeia por um texto. Outra atenção que o revisor também precisa ter é que o jornal apresenta uma linguagem híbrida, que está no meio do caminho entre o mais monitorado, que se pauta pela norma padronizada da língua, e o popular, livre e falado. Assim, ao registrar a fala das pessoas, não se pode ter um texto frio, stricto sensu.
Os jornais ainda precisam muito de revisores. A confecção de um jornal não é simples. É um processo dinâmico e exige agilidade, porque se escreve a notícia em um dia para distribuí-la no outro. É um ambiente de muita correria – os prazos são curtos e, por isso, há inclusive ocasiões em que algumas páginas não conseguem passar pela revisão. Um dia comentei que nunca imaginei que sentiria adrenalina em alta fazendo revisão. Mas isso acontece em uma redação. E aí, meus caros, os erros surgem. Culpa de quem? Eu, particularmente, afirmo que não se devem procurar culpados. Afinal, em princípio, o revisor não escreve nada. E, quando “mete a caneta vermelha”, faz isso para ajudar os seus colegas na redação, para que não corram o risco de serem estigmatizados ou deixarem o leitor sem entender.
Muitos aspectos poderiam ser tratados sobre isso. Quem sabe um dia o revisor poderá ter voz outra vez. Afinal, nós existimos e somos humanos também, erramos e acertamos como todos, e sabemos disso, por incrível pareça.