Beatriz morre de preguiça de escrever. Quando tem de dar um recado, não pensa duas vezes. Telefona. Adora ouvir a voz dos amigos no outro lado da linha. Mas as ligações ficaram cartas. O dinheiro, curto. O pai, durão. Bate pé e nega aumento de mesada. E daí? Sem saída, a alternativa da moça é uma só – economizar.
Mas eis que Beatriz encontrou o grande amor. Bonito, charmoso e delicado, o rapaz tem uma mania. Adora mandar e-mails. Ela os responde com cuidado. Sabe que vão longe os tempos em que o amor era cego. Hoje enxerga com lentes de aumento. Uma letra posta fora do lugar pode matar o sonho mais longamente acalentado.
Outro dia, o gatão lhe mandou um bilhete eletrônico. Nele, o convite para um cineminha. Ela respondeu-lhe que não estava… ops! A fim ou afim? Mudou a frase. Mas a dúvida ficou. Passado o sufoco, consultou a gramática. Lá estava a resposta.
Afim não se escreve coladinha por acaso. É que os iguais se atraem. Afim significa que tem afinidade, semelhança: Evo Morales e Hugo Chávez têm idéias afins. História e literatura são matérias afins. O espanhol é língua afim ao português. Cunhado é parente afim.
A fim, desse jeito, um pedaço cá e outro lá, faz parte da locução a fim de. Quer dizer para: Saiu cedo a fim de (para) ir ao cinema. Mandou e-mail a fim de agendar consulta na Receita Federal. Tirou férias a fim de (para) estudar para o concurso.
Na linguagem da brotolândia, a fim ganha sentido coloquial. Vira com vontade de, como se lê no diálogo de Rafael e João Marcelo:
— Rafael, vamos bater uma bolinha hoje?
— Não estou a fim. Que tal uma azarada no shopping?
— Agora, quem não está a fim sou eu. Fica pra próxima.
Viu? O bate-papo dos garotos tem tudo a ver com a dúvida da Beatriz. Ela não estava a fim. PT saudação.