A luz se foi. Boa parte do Brasil ficou às escuras. A água do chuveiro gelou. O elevador parou no meio do trajeto. A tevê calou-se. Os semáforos perderam as cores. O metrô brincou de estátua. O cirurgião ficou com o bisturi no ar. “O que aconteceu?”, perguntaram os atônitos moradores de 18 estados. Alguns responderam em inglês. Falaram em blecaute. Outros, em espanhol. Referiram-se a apagão. O murismo se explica. Há uns 10 anos, a gringa reinava sozinha. Aí bateu a escuridão em Buenos Aires. Jornais, rádios e tevês noticiavam o “apagón” portenho. Talvez pela semelhança com o português, passamos a usar apagão. A palavra não aparecia nos dicionários. Mas é de formação legítima. Temos apagar e apagamento. Apagão é um apagamento desssssssssssssssssssste tamanho. Em 2000, o Aurélio a brindou com um verbete.
Por falar em apagão…
Atenção, gente sovina. O verbo apagar joga no time dos pronominais. É colega de acender e aposentar. Em algumas construções, o sujeito e o objeto são as mesmas criaturas. Alguém apaga a luz. A luz apaga-se. Alguém acende a luz. A luz se acende. O INSS aposenta o trabalhador. O trabalhador se aposenta.
Antes ou depois?
A luz apaga-se? A luz se apaga? Qual é a forma nota 10? No nosso português brasileirinho, o substantivo atrai ou não o pronome. Depende da preferência do freguês: Maria telefonou-me. Maria me telefonou. João saiu-se bem na prova. João se saiu bem na prova. Carlos lhe serviu um cafezinho. Carlos serviu-lhe um cafezinho.