Onde, Chico?

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  De uma coisa ninguém duvida. O aonde é respeitável palavra casada. Resulta do encontro irresistível da preposição a com o pronome onde. Mas a união não se dá sem mais nem menos. Há requisitos.   Só ocorre com verbos de movimento que exigem a preposição a. O verbo ir, por exemplo. Quem vai vai a algum lugar: Aonde você vai? Vou ao Recife. Não sei aonde você vai. Gostaria que me dissesse aonde você vai.   Conduzir não fica atrás. Preenche as duas condições da união feliz (quem conduz conduz a algum lugar): Aonde a inflação nos conduzirá? Ninguém sabe aonde a inflação nos conduzirá.   Atenção, precipitado. Para merecer o aonde, o verbo tem de preencher as duas condições. Uma só não é suficiente.   Assistir, por exemplo, pede a preposição a. Mas não indica movimento. Pular indica movimento. Mas não aceita a preposição a. Com eles & cia., o aonde não tem vez. Não tem vez também nestas frases:   — Onde você está?   — Gostaria de saber onde você está.   Estar não indica movimento nem exige a preposição a (quem está está em algum lugar).   Trabalhar não preenche nenhuma das duas condições. Com ele, só o onde tem passagem: Não me disse onde pretende trabalhar quando concluir o curso.   E a charge do Chico publicada no Globo de hoje? Vai parar é locução verbal. O verbo principal é que conta. Quem para pra em algum lugar. Sem preencher as condições para o emprego do aonde, só o onde tem vez. Vem, dissílabo: …mas onde isto vai parar?