Ferreira Gullar acertou ao dizer que “a crase não foi feita pra humilhar ninguém”. Mas fez vistas grossas pra pormenor importante. O sinalzinho dá um senhor nó nos miolos. Pra desatá-lo, só há uma saída — ficar de olho no artigo. É ele que promove os rolezinhos.
Cheio de manhas, faz de conta que está presente. Mas não está. Ou vice-versa. Finge que se encontra lá, juntinho do substantivo. Mas… cadê? A criaturinha nem passou por perto. Casa, terra e palavras repetidas são freguesas da brincadeira malandra. O que fazer? Conjugar o verbo prevenir. Com ele, o remediar perde o emprego.
A crase 2
Casa
Crase antes de casa? Depende do artigo. A casa onde moramos rejeita o pequenino: Logo, não admite o acento grave: Saí de casa.
Sem artigo, o a que antecede a casa onde moramos é preposição purinha. Não admite acento de crase: Dirigi-me a casa cedo.
A casa dos outros pede artigo — a casa da vovó, a casa de Lu, a casa dos pais: Foi à casa da avó. Vai à casa do João.
Mais? Dirigiu-se à casa dos pais. Vai à casa de parentes distantes. Viu? Antes da casa dos outros aparece artigo. A crase tem vez. Terra
Terra, em oposição a mar, não admite artigo. Por isso os marinheiros gritam “terra à vista”. Sem artigo, nada de crase. Palavras repetidas
Nomes repetidos não suportam artigo. Sem ele, nada de acento: face a face, cara a cara, gota a gota, uma a uma, hora a hora, semana a semana. Casaizinhos A língua tem casaizinhos. Pra lá de fiéis, o que acontece com um acontece com o outro. Se um vem com preposição, o outro vai atrás.
Casalzinho de…a. De é preposição pura. A também. Nada de crase: Estudo de segunda a sexta. Trabalha de segunda a segunda.
Casalzinho da (do)…à. Da é preposição + artigo. À também: Trabalho das 2h às 4h. Fui da Rua da Praia à Rua dos Andradas.