O lobo e o cordeiro

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br

Por que gostamos tanto de fábulas? Há muitas respostas. Uma: adoramos ouvir histórias. Outra: a bicharada representa os papéis que vivemos na sociedade. Mais uma: as narrativas são arquétipas, comuns aos seres humanos sem considerar diferença de origem, idade, sexo, etnia, nacionalidade, classe social. Em suma: no fundo, bem no fundo, somos todos iguais.

A questão vem a propósito do acordo iraniano. O desenrolar traz à tona O lobo e o cordeiro. Lembra-se? O lobo morava no alto de uma colina. Um dia, acordou com fome. Sem ter uma carninha na geladeira, partiu pra luta. Viu, lá embaixo, o cordeiro bebendo a água que caía das encostas. “Oba”, festejou. “Eis a minha refeição”. Lambendo os beiços, desceu e abordou o cordeiro. O diálogo:

—    Você sujou a água que eu bebo.

—    Como? É impossível. A água vem lá de cima.

—    Se não foi você, foi seu pai.

—    Não foi. Sou órfão.

—    Se não foi seu pai, foi sua mãe.

—    Minha mãe morreu de parto quando nasci.

—    Então foi seu irmão.

—    Sou filho único.

—    Se não foi você, seu pai, sua mãe, seu irmão, foi seu avô, seu tio, seu primo. E glup! Papou o animalzinho.

Em outubro, a Agência Nacional de Energia Atômica (AIEA) exigiu que o Irã enriquecesse o urânio em outro país. Era curvar-se ou sofrer sanções. Teerã aceitou. Depois, voltou atrás. Criou-se o impasse. O Brasil se ofereceu como mediador. O país persa cedeu. Assinou acordo quase idêntico ao proposto seis meses atrás. As grandes potências, Estados Unidos à frente, reagiram. Apressaram a aprovação das sanções. A razão: duvidam das intenções de Mahmoud Ahmadinejad. Como de intenções o inferno está cheio, a história do Irã lembra a do Iraque, que lembra a do cordeiro e do lobo.