“José Sarney mandou anular todos os atos secretos”, anunciou William Boner no Jornal Nacional. “O presidente do Senado decidiu anular todos os 663 atos secretos do Senado”, noticiou André Trigueiro no Jornal das Dez. O que os enunciados têm em comum além de divulgar a canetada? O desperdício. Apresentadores teriam poupado sílabas, minutos e a paciência do ouvinte se tivessem dispensado o “todos”. A razão? A presença do artigo dá o recado — são todos. Compare:
Sarney anula atos secretos. Sarney anula os atos secretos.
O primeiro enunciado informa que Sarney anulou alguns atos secretos. Outros permanecem válidos. No segundo, o recado muda de enredo: todos os atos perderam a validade.
Mais exemplos:
Sarney anula 663 atos secretos. Sarney anula os 663 atos secretos.
Viu? A ausência do artigo não deixa dúvida: há mais atos secretos que os 663 jogados na lixeira. Sua Excelência invalidou alguns. A presença do pequenino engloba a totalidade. Não deixa nenhum escondidinho de fora.
Em suma: o desnecessário não é necessariamente errado. Mas sobra. Xô!
Dica 1
Ser claro é obrigação de quem fala ou escreve. Ao afirmar “os pediatras de Brasília cruzam os braços”, o falante engloba os médicos que cuidam da criançada de A a Z. Se não são todos, o ozinho não tem vez: Pediatras de Brasília cruzam os braços.
Dica 2
“A generalização é burra”, disse Nelson Rodrigues. Com razão. A regra vale para o artigo plural. No singular, a história segue outro curso. A presença do o ou a, muitas vezes, abrange toda a espécie: O homem é mortal. O professor faz o aluno. O mico-leão-dourado corria risco de extinção. Safou-se.