O calo do ordinal

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Duas notícias chamaram a atenção nesta semana. Ambas se referem a números. A primeira: o Brasil aparece em 84º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. A outra: Dilma figura na 22ª posição na lista das pessoas mais poderosas do mundo. Uns dias antes, nova cifra ocupou as manchetes. A Terra recebeu novo morador. É o 7.000.000.000º habitante.

A divulgação trouxe desafios. Respostas se impuseram. A mais urgente bateu à porta de repórteres. Como dizer os ordinais? Os curtinhos são moleza. A escola os ensina desde sempre. Rádios e tevês os repetem. Nós os memorizamos. É o caso de primeiro, segundo, quinto, décimo, décimo sexto, vigésimo, trigésimo, quadragésimo, quinquagésimo, sexagésimo, septuagésimo (ou setuagésimo), octogésimo, nonagésimo, centésimo.

A porca torce o rabo com os grandões. Vale o exemplo de 7.000.000.000º. Como pronunciá-lo sem ferir ouvidos sensíveis? Dica: os ordinais se caracterizam pela monotonia. Com eles é ordinal ou ordinal. O ordinal de 1 bilhão é bilionésimo. De 2 bilhões, segundo bilionésimo; de 3 bilhões, terceiro bilionésimo; de 4 bilhões, quarto bilionésimo; de 5 bilhões, quinto bilionésimo; de 6 bilhões, sétimo bilionésimo. De 7 bilhões? Claro, é sétimo bilionésimo.

E depois? O jeitão se mantém. Basta acrescentar ordinais e ordinais — sempre ordinais: quinto milionésimo terceiro (5.000.003º), sétimo bilionésimo primeiro (7.000.000.001º), quarto bilionésimo tricentésimo trigésimo terceiro (4.000.000.333º).

Seis e meia dúzia

Ufa! A língua é como a mulher de César. Não bastava à primeira-dama do Império Romano ser honesta. Ela tinha de parecer honesta. À língua também não basta ser correta. Precisa parecer correta. Se o número soa estranho, apele para outra possibilidade. Diga o cardinal mesmo. Em vez do compridíssimo centésimo décimo segundo lugar, fique com classificação nº 112.