Nossa Senhora AchiropitaMárcio Cotrim
A expressão Nossa Senhora de Achiropita tem seu berço na cidade de Rossano, região italiana da Calábria. Numa pequena gruta dessa vila vivia, no século 6, um eremita chamado Éfrem, devotíssimo da Virgem Maria. Certo dia, ele teve a ideia de transformar a gruta num santuário dedicado a Nossa Senhora e obteve a permissão do soberano de Constantinopla, que promoveu a vinda de artistas de Bizâncio para pintar a imagem.
Infelizmente, o trabalho fracassava. De dia, dava gosto vê-lo, mas à noite a imagem desaparecia misteriosamente. Certa noite, enquanto o vigilante cumpria seu dever em frente à gruta, viu surgir do nada uma senhora de rara beleza trajando túnica resplandecente e pediu ao guarda que se afastasse.Na manhã seguinte, o povo do lugar, perplexo, contemplou uma bela imagem de Nossa Senhora exatamente no local onde os artistas, em vão, tentavam pintar a figura. Fiéis começaram a chegar para ver o milagre e aclamaram, entre lágrimas e cantos de louvor: Achiropita! – , que quer dizer “imagem não pintada por mãos humanas”.
A devoção se alastrou e hoje, entre nós, é praticada na igreja paulistana de Nossa Senhora Achiropita, fundada no bairro do Bixiga por imigrantes italianos em 1926. A festa que homenageia a santa é comemorada todos os anos nos fins de semana de agosto e se transformou numa das mais populares e tradicionais da cidade. Nela são consumidas cerca de 11 toneladas de macarrão, 5 de muçarela e 10 mil litros de vinho entre outros produtos para um público de cerca de 200 mil pessoas. Ao voraz apetite se agrega formidável demonstração de fé que lembra a jocosa frase de Nelson Rodrigues: “Sem fé não se chupa nem um Chica Bom nem se atravessa uma rua”.