A Terra gira, o tempo passa, os fatos acontecem. Tevês, rádios e jornais se encarregam de nos manter atualizados. O mundo fica pequeno. Acidente lá na Índia invade a sala de brasileiros, russos e quenianos. A farra de Robinho ganha manchetes de Europa, França e Bahia. Bombardeios de Gaza revoltam a consciência civilizada do planeta. O blog mantém-se atento ao soprar dos ventos. Nutre-se das notícias pra transformar em notícia a língua nossa de todos os dias.
Baixaria
Quem diria, hein? O nosso Robinho saiu das páginas esportivas e entrou nas policiais. Numa noitada regada de bebidas e povoada de moças bonitas, ele teria avançado o sinal. “Fui estuprada por Robinho”, denunciou uma estudante de 18 anos. “Por mim não foi”, respondeu o jogador. Enquanto a coisa rola na delegacia, uma questão pintou na terra do atleta. Trata-se da pronúncia do crime do qual ele é acusado. Muita gente troca as letras de lugar. Diz “estrupo”. Nada feito. É estupro.
Crime e reforma
A história veio a público na quinta. Até então, a imprensa mantinha-se calada pra não prejudicar as investigações. Jovem de 19 anos caiu nas mãos de sequestradores às vésperas do Natal. Ficou preso durante 37 dias. Ao ser resgatado, estava tão fraco que mal podia falar. O fato traz à tona a reforma ortográfica. Sequestro, sequestrador, sequestrado & cia. escrevem-se assim, sem trema. A razão: a reforma cassou a duplinha sem piedade. Não deixou um pra contar a história. Adeus!
De altos e baixos
Nossa Senhora! A chuva não dá trégua. Alaga ruas, invade casas, desabriga gente. Não faltam imagens de carros boiando, árvores arrancadas, pontes caídas. A água impiedosa cobre a paisagem. Transforma ruas em rios. A imprensa não tem saída. Convoca a preposição certa para dar o recado. É aí que a porca torce o rabo. Com indesejável frequência, lê-se que as casas ficaram “sobre a água”. Nada feito. Sobre indica posição superior. As casas não ficaram em cima da água. Ficaram embaixo. O sob pede passagem: As casas ficaram sob a água. Esqueceu o sapato sob a mesa. Não guarde dinheiro sob o colchão. O esconderijo é pra lá de manjado.
Mães e mães
A semana se animou com duas notícias de maternidade. Uma triste. Em Brasília, mãe abandonou a filha recém-nascida em parada de ônibus. A criança morreu. A outra alegre. Americana teve nada menos de oito bebês. Todos passam bem. Uma e outra obrigaram o emprego da expressão “dar à luz”. A confusão se instalou. Qual é mesmo a forma nota 10 — dar à luz um bebê ou dar à luz a um bebê? É “dar à luz um bebê. Significa “trazer ao mundo um bebê”. Do jeito que o professor gosta, a forma é esta: Raquel deu à luz menina de 3,2Kg. Americana deu à luz oito bebês. Todos passam bem.
Por falar em gêmeos…
Nasceram oito bebês? Bem-vindos. E mãos à obra. Multipliquem as fraldas, as mamadeiras, os berços. E relembrem as palavras que nomeiam a meninada: gêmeos (dois), trigêmeos (três), quadrigêmeos ou quádruplos (quatro), quíntuplos (cinco), sêxtuplos (seis), sétuplos (sete), óctuplos (oito), nônuplos (nove), décuplos (10). Ufa!
Um, dois ou mais…
Gêmeo é palavra que vale por duas. Uma: dá nome às crianças nascidas do mesmo parto. A outra: designa cada uma delas: A americana deu à luz óctuplos. Os gêmeos passam bem. Mas três deles inspiram mais cuidados.