#Not in my name

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Dad Squarisi

Quatro horas separam as principais capitais árabes de Paris ou Londres. Os ricos passam férias, fazem compras, frequentam teatros, museus e restaurantes nos centros europeus. É natural, pois, que deslocados ou perseguidos — que aumentaram com a criação do Estado de Israel, a invasão do Iraque e a guerra síria — emigrem para o Velho Continente em busca de segurança ou melhor condição de vida. Reserva de mão de obra barata, sofrem o efeito da islamofobia, máscara da discriminação contra o imigrante.

O Ocidente sabe pouco sobre a cultura islâmica. Confunde o islã com a corrente fundamentalista que recorre ao terrorismo como arma política — a que explode, sequestra e mata. Nada mais equivocado. O fundamentalismo é braço armado de uma parcela de muçulmanos. Da mesma forma que o IRA foi do catolicismo. Uns e outros não representam o pensamento da maioria.

Muçulmano, do árabe muslim, significa quem se submete a Deus. O islã obedece a dois princípios. Um: a onipotência do Senhor. O outro: bondade, generosidade e justiça na relação entre as pessoas. Daí não se verem mendigos nas ruas do mundo árabe. Os seguidores de Maomé proporcionam ao pai do vizinho o que proporcionam ao próprio pai. Dão ao filho do próximo o que dão ao próprio filho.

Cinco pilares sustentam o credo de 25% da população mundial. O 1º: dizer, todos os dias, ‘‘há só um Deus, e Maomé é seu profeta’’. O 2º: orar cinco vezes ao dia voltado para Meca e participar do culto das sextas-feiras. O 3º: dar esmola aos pobres e necessitados. O 4º: jejuar durante o Ramadã. O último: peregrinar a Meca, se puder, pelo menos uma vez na vida.

É ignorância (ou má-fé) estimatizar o islã. Em resposta à violência contra o Charlie Hebdo, franceses atacaram alvos ligados aos muçulmanos, e partidos anti-imigração se aproveitam pra impor ideias nazistas. Vamos combinar? Não há terrorista islâmico. Há terrorista. Judeu matou Rabin. Americano explodiu prédio em Oklahoma. Eles, como os irmãos Kouachi, são assassinos. A hastag #Not in my name, que invade a internet, não fala só dos muçulmanos. Fala de todos. Fala de nós.