Fazer fofocas é perigoso. Fazer jornalismo também. Um e outro podem dar processo. E, dependendo da direção dos ventos, cana. Safar-se? Há duas saídas. Uma: manter a boca fechada. A outra: recorrer às manhas da língua. É o que fazem os repórteres quando não têm provas do que dizem. “Kim Jong-il teria sofrido o segundo derrame”, anunciam jornais, rádios e tevês.
A Coréia do Norte tem um dos regimes mais fechados do mundo. Notícia dali só sai com carimbo oficial. A saúde do ditador é segredo de Estado. Mas, volta e meia, indiscrições pintam aqui e ali. O coração do homem falhou há dois meses. Tempos depois, o mandachuva apareceu em público. Sumiu em seguida. Há suspeitas de que o mal o tenha atacado outra vez. Certeza? Ninguém tem. Daí o cuidado.
Dizer “teria sofrido” dá idéia de incerteza, dúvida, suposição. É diferente de dizer “sofreu”. Sofreu afirma. Se não for verdade? Desacredita o repórter. O futuro do pretérito se presta ao jogo pra lá de conhecido dos mineiros — informa sem comprometer-se. Não afirma, nem nega. Muito pelo contrário.
Suposições e fofocas
Hummmmmmmmmmmmm que delícia! Para uma fofoca não há tempo melhor. Com o futuro do pretérito, a gente espalha o veneno e tira o corpo fora como se não tivesse nada com os estragos. Aprecie a competência do intrigante: Maria estaria se encontrando com Paulo às escondidas. Eles matariam aula pra sair juntos.
Teriam sido vistos no parque da cidade.
Afinal, perguntarão os impacientes, Paulo e Maria estão namorando às ocultas? A resposta pode ser sim ou não. Com o tempo jeitoso, o autor não põe a mão no fogo.