Na boca do povo

Publicado em Geral

“Vai ter Copa”, disse Jerôme Valke. O secretário-geral da Fifa, aquele que queria dar pontapé no traseiro dos brasileiros, aprendeu uma manha dos donos da casa. No popular, a moçada verde-amarela manda a norma culta aguardar a vez. Substitui o verbo haver pelo ter.

Em tempos idos e vividos, quando a escola ensinava e o aluno aprendia, o professor frisava: “Em orações sem sujeito, abram alas para o verbo haver. Com sujeito, é a vez do ter”. Compare: O Brasil vai ter Copa. Vai haver Copa no Brasil.

Quem vai ter Copa? A primeira frase responde (o Brasil). A segunda não. No Brasil não é sujeito. É adjunto adverbial de lugar. Mais exemplos: A Copa terá distúrbios. Vai haver distúrbios na Copa. O Judiciário tem processos de mais e juízes de menos. Há processos de mais e juízes de menos no Judiciário. O time tem 11 jogadores. Há 11 jogadores no time.

Superdica

Ter ou haver? Na dúvida, apele para o troca-troca. Se a oração só aceita o verbo ter, fique com ele. Se aceita os dois verbos, o ter é intruso. Substitua-o pelo haver. Veja: A Copa terá distúrbios. (A Copa haverá distúrbios? Não tem sentido.) Vai haver distúrbios na Copa. (Vai ter distúrbios na Copa.) O Judiciário tem processos de mais e juízes de menos. (O Judiciário há processos de mais e juízes de menos? Nem pensar. Xô!) Há processos de mais e juízes de menos no Judiciário. (Tem processos de mais e juízes de menos no Juduciário.) O time tem 11 jogadores. (O time há 11 jogadores? Nãoooooooooo!) Há 11 jogadores no time. (Tem 11 jogadores no time.)

Guarde isto: no falar informal, que usa bermuda, camiseta e sandália, o ter no sentido de haver é bem-vindo. Mas em provas e outros textos formais, não abuse da sorte. Dê passagem ao haver. A troca rouba pontos, vagas e promoções.