Seu Bento, o mineirinho, pensou melhor e decidiu que os ferimentos que tinha sofrido num acidente de tráfego, duas semanas antes, eram suficientemente sérios. Valia a pena processar o dono do outro carro.
No tribunal, o advogado do réu começou a inquirir seu Bento:
Advogado:
― O Senhor não disse na hora do acidente que estava muito bem?
Seu Bento:
― Bão, vô-lhe contá o que acunteceu. Eu tinha acabado di colocá minha mula favorita na caminhonete…
Advogado (interrompendo):
― Eu não pedi detalhes! Só responda à pergunta, o senhor não disse na cena do acidente que estava muito bem?
Seu Bento:
― Bão, eu fiz a mula subi na caminhonete e tava desceno a rodovia…
Advogado (dirigindo-se ao juiz):
― Meritíssimo, estou tentando estabelecer os fatos aqui. Na cena do acidente este homem disse ao patrulheiro rodoviário que estava bem. Agora, várias semanas depois, ele está processando meu cliente. Isso é fraudulento! Por favor, poderia dizer a ele que simplesmente responda à pergunta?
Mas, a essa altura, o juiz estava muito interessado na resposta de seu Bento e respondeu ao advogado:
― Eu gostaria de ouvir até o fim o que ele tem a dizer.
Seu Bento agradeceu ao juiz e prosseguiu:
― Como eu tava dizeno, fiz subi a mula na caminhonete e tava desceno a rodovia quando uma picapi atravessô o sinar vermeio e bateu na minha caminhonete bem na laterar. Eu fui jogado fora do carro prum lado da esa e a mula foi jogada protro lado. Eu tava muito firido e num pudia mi movê.
E continuou:
— De quarqué jeito, eu pudia ouvi a mula zurrano e grunhino e, pelo baruio, eu pude percebê que ela tava muito mar. Logo adispois do acidente, os guarda chegô no locar. Teve um que oviu a mula gritano e zurrano e foi até onde ela tava. Depois de dá uma zoiada nela, ele pegô a arma e atirô bem nos ôio do animar. Então, o policiar atravessô a estrada ca arma na mão, oiô pra mim e disse ansim:
— Óia, sua mula tava muito mar e eu tive que atirá nela. Cumé que o senhô tá se sentino?
— O senhô ia respondê o quê, meritísso?”
(Colaboração José Horta Manzano)