Licença, majestade?

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Ninguém segura. A campanha eleitoral ganhou ruas e palanques. Dilma, Serra, Aécio, Ciro & cia. fazem e acontecem para aparecer. Vale tudo. Sorrisos, abraços e beijinhos viram chavão. Só perdem pra criancinha no colo. Dilma abusou. Inaugurou hospital construído sem um níquel do governo federal. Serra foi além. Inaugurou maquete de ponte.

Pra ficar bem na foto, os candidatos contratam marqueteiros. Fantasiam-se de bonzinhos, trabalhadores e competentes. Ensaiam o discurso. Esbanjam próclises e mesóclises. Acertam formas rizotônicas e arrizotônicas. Sobretudo evitam o eu. O pronomezinho dá a impressão de arrogância. Rouba votos. A saída? Pedir socorro ao plural de modéstia. Ou, se preferir outro nome, plural majestático. Em vez do eu, eles usam nós.

“Nós somos experiente. Construiremos a ponte”, disse Serra diante da maquete. “Nós não somos excludente. Governaremos para todos”, jurou Dilma. “Nosso governo construiu o Centro Administrativo”, lembrou Aécio Neves. “Quem criou o Bolsa Família foi nossa equipe”, frisou FHC. Viu? É tudo mentirinha. O nós continua eu. Por isso o apelo para a falsa modéstia impõe regras. O verbo vai para o plural. Mas adjetivos e substantivos não.

Se deixassem a majestade pra lá, os candidatos conjugariam o verbo assumir. “Eu sou experiente. Construirei a ponte”, diria Serra. “Eu não sou excludente. Governarei para todos”, juraria Dilma. “Meu governo construiu o Centro Administrativo”, lembraria Aécio. “Quem criou o Bolsa Família foi minha equipe”, frisaria FHC.

Moral da opereta: na campanha, os candidatos se embalam para presente. A língua também.