DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br
Certa vez perguntaram a Confúcio o que não poderia faltar aos poderes de um país. O sábio respondeu:
— Três coisas. A primeira: o exército. O Estado precisa de homens para defender as fronteiras contra os inimigos. A outra: a comida. Saco vazio não fica em pé nem sustenta governos. A terceira, não menos importante: a confiança dos cidadãos. O povo tem de acreditar nas pessoas que lideram os destinos da nação.
— Mestre, se o país tivesse de abrir mão de uma delas, qual seria?
— Do exército. A comida e a fé são capazes de manter a nação mesmo sem soldados treinados no manejo de armas.
— Se, numa situação extrema, fosse forçado a renunciar a mais uma, em qual a escolha deveria recair?
— Na comida. Nenhum povo sobrevive à falta de confiança nas instituições.
Mais de 2.560 anos depois, Confúcio volta à lembrança. A ressurreição do pensador chinês se deve ao julgamento dos mensaleiros. São 38 réus pra lá de especiais. Eles frequentam (ou frequentaram) o andar de cima. Pertencem à casta que surfa na impunidade. E, por se acreditar acima da lei e da ordem, pisa as regras, mete a mão no dinheiro público, usa a república para beneficiar a si e aos seus.
O julgamento que começa hoje é simbólico. Entre togas, acusações e defesas, sobressai mensagem subliminar que está clara no art. 5º da Constituição: “Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. O desenrolar do processo — transmitido ao vivo e em cores pela TV Justiça — confirmará ou não o pressuposto da Carta Magna.
Condenar ou absolver é função dos tribunais. Para que a justeza da sentença vá ao encontro da lição de Confúcio, impõe-se uma condição. O brasileiro tem de assimilar o porquê da decisão. Como lembrou Elio Gaspari, “se os advogados e os ministros falarem português compreensível, prestarão serviço ao Judiciário, permitindo que a povo entenda o que dizem”. O cidadão pode concordar ou indignar-se. Mas baseado em fatos, não em inferências ou opiniões.