Leitor escreve

Publicado em Geral

Querida Dad:

Te leio sempre com imenso prazer. A coluna é publicada semanalmente em O Sul. Me divirto com a jovialidade das tuas dicas. Outro dia, comprei o e-book de “Escrever melhor”. na Amazon.

Chamou-me a atenção, hoje, a pergunta do Carlos Peixoto, sobre “suicidar” ou “suicidar-se”. Suponho que tenha origem em equívoco de um antigo professor de português, do qual também fui aluno quando guri (há mais de 70 anos!).

Aquele professor ensinava que “cidare” em latim já significava “matar-se” e “suicidar-se” era redundância.. Durante muito tempo, tive isso como certo. Certo dia, passando os olhos pelo “Dicionário de Expressões e Frases Latinas”, do professor Henerik Kocher, descobri o “Non occides” (Não matarás) da Vulgata, e também que “dare” (dar) nada tem a ver com matar (“occidere”). Enfim, rematada asneira.

Nem arrisco hipótese de como o “mestre” chegou àquela conclusão. Meu latim não dá nem para o gasto, Suponho que a memória e o ouvido o enganaram, mas a bobagenzinha aparentemente engenhosa deve ter ficado em algumas cabeças e transmitidas a outras. O Carlos Peixoto, incluso.

Só para tua diversão, e meio a propósito, frase de Suetônio, extraída do mesmo dicionário: Tu énim, Cáesar, civitatem dare potes homínibus, verbo non potes (Tu, César, podes dar cidadania a homens, mas a uma palavra não podes dar)

Lamentavelmente, a obra do professor Henerik Kocher permanece inédita. Tenho cópia dos originais que ele me confiou, para tentar publicá-la aqui no Rio Grande do Sul. Ele vive no Rio de Janeiro.

Não consegui nada. O Brasil é um país aberrante. A hierarquia é das inutilidades e porcarias publicadas às toneladas.

O melhor abraço doJayme Copstein