Hugo Chávez se foi. Embora esperada, a morte do venezuelano pegou de surpresa maioria de amigos e inimigos. É que a doença foi cercada de tanto mistério que ninguém tinha informações seguras sobre a evolução da enfermidade. Só especulações corriam soltas. Mas, como diz o outro, não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. Quando a vida bateu ponto final, urgências se impuseram.
Chefes de Estado desmarcaram compromissos. Fizeram a mala e embarcaram pra Caracas. Dilma foi uma delas. Fãs também quiseram se despedir do líder. É o caso de José Dirceu. Mas, com ele, a porca torceu o rabo. O homem é condenado pelo STF. Sem passaporte, não pode bater pernas no exterior.
Os jornais noticiaram. “Proibido de deixar o país, Dirceu pede ao Supremo para ir ao enterro”. Acertaram. Existem dois jeitinhos de pedir. Um deles: pedir para. Ardiloso, ele esconde a palavra licença: O filho pediu (licença) para chegar mais tarde. Os alunos pedem (licença) para faltar à última aula. Dirceu pede ao Supremo (licença) para ir ao enterro.
Não é pedido de licença? Então peça que. Assim: Durante o temporal que alagou as ruas, interditou a Ponte Rio-Niterói e paralisou o Aeroporto Santos Dumont, o prefeito do Rio pediu que os cariocas ficassem em casa. O governo pede que a população colabore no combate ao mosquito da dengue. Peço todos os dias que as crianças tenham cuidado no trânsito.
É isso. Pedir que? Pedir para? Ambos merecem nota 10. Mas dão recados diferentes. Quem se comunica tem de saber o que está dizendo e como dizê-lo. Se não souber, ressuscita a conclusão de Mário Quintana. O poeta escreveu divertido: “A gente pensa uma coisa. Escreve outra. O leitor entende outra. E a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita”.