“Reforma, pra que te quero?”, perguntaram estudantes, professores, jornalistas, profissionais liberais e todos os que suaram a camisa pra entender as manhas da ortografia. Depois de tudo dominado, teriam de desaprender o aprendido e reaprender as novidades. Que coisa! O esperneio cessou quando se anunciou o inimaginável. O emprego do hífen seria simplificado. Reduzir as noventa e tantas regras existentes? Oba! Todos correram ao texto do acordo. Procuravam certa racionalidade no vaivém de regras e exceções. Entre as novidades, uma mereceu arregalar de olhos. Trata-se da que amplia a função do tracinho. Além de ligar o pronome ao verbo (vende-se) e formar palavras compostas (beija-flor), o danado invade o território do travessão. Junta palavras sem formar vocábulos novos. Antes, a distinção de papéis era pra lá de clara. De vocábulos independentes, o hífen formava um terceiro, sem parentesco com os originais. Vale o exemplo de beija-flor. Beija é forma do verbo beijar. Flor, o presente colorido que as plantas nos dão. Ligadas pelo traço de união, a dupla dá nome ao pássaro que voa de galho em galho e seduz pela leveza e encanto. O travessão, por seu lado, ligava vocábulos sem formar palavras novas. É o caso de Ponte Rio – Niterói. Pois, doravante, cessa tudo que a musa antiga canta. O hífen cassou o grandão. Agora só o pequenino tem vez: Trecho Brasília-São Paulo, Voo Nova York-Tóquio, Ponte Rio-Niterói, Circuito Paris-Roma-Londres, Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Etc. Etc. Etc. Atenção, marinheiro de poucas viagens. O travessão só perdeu essa função. As demais se mantêm intocadas. É o caso de introduzir diálogos, dar destaque a termos da frase, substituir os dois pontos ou a vírgula.