A morte da dama de ferro não reacendeu só discussões econômicas e políticas. As linguísticas também ganharam espaço. Eis a questão: como se escreve o adjetivo derivado de Thatcher? A resposta remete à hereditariedade. Quem veio antes pesa — e muito. Por isso as palavras derivadas seguem as primitivas. Sem vacilar, ficam no encalço de pai e mãe.
Se a primitiva se escreve com s, a derivada não hesita. Vai atrás. Se com z, x, ch ou qualquer outra letra, também. Pode ser adjetivo, verbo, substantivo. A regra vale pra todos: atrás (atraso, atrasar, atrasado), exame (examinar, examinador, examinado), fazer (fazedor, fiz, fez),cheio (encher, enchente), charco (encharcar, encharcado), paralisia (paralisar, paralisante, paralisação).
A origem é levada tão a sério que nem os nomes estrangeiros escapam. Mas lidar com eles exige algo mais que o respeito à família. Os importados ficam no meio do caminho. Eles têm um olho na nacionalidade. O outro, na língua portuguesa. Em outras palavras: respeitam a grafia original. Depois, acrescentam os sufixos ou prefixos como se a palavra fosse 100% nacional.
O resultado é híbrido – meio estrangeiro, meio português. Mas tem seu charme. Veja: Freud (freudiano), Marx (marxismo, marxista), Hollywood (hollywoodiano), Spielberg (sipelberguismo, spelberguiano), Kant (kantiano, pós-kantismo), Byron (byronismo, byroniano), Shakespeare (shakespeariano), Bach (bachianas), Hobbes (hobbesiano), Sarney (sarneysismo), Taylor (taylorismo), Weber (weberniano, pré-werberiano), windsurf (windsurfista), kart (kartismo, kartódromo). E, claro, Thatcher (thatcherismo).
Percebeu? A estrutura original do vocábulo permanece. Ela transmite o significado da palavra. É como o sobrenome. Com ele se identifica a família.