Grampo entra sem bater

Publicado em Geral

 
 
 
DAD SQUARISI // dad.squarisi@correioweb.com.br
 
“Ninguém está livre dos grampos”, disse Tarso Genro. Antes de assumir a impotência, o ministro da Justiça deve ter feito uma visitinha ao passado. Lembrou-se de episódios vira-latas. Entre eles, os dos ronivons santiagos, chicões brígidos e magris dos 30 mil dinheiros. Gente com pedigree também lhe veio à memória. O então todo-poderoso FHC teve conversas gravadas. Culpa do Júlio César — aquele embaixador chefe do Cerimonial do Planalto apanhado com a boca na botija. Grampearam o telefone dele. Resultado: suspeita de tráfico de influência e favorecimento de empresas dentro do gabinete presidencial.
 
 
Nem os operários de Deus escapam. O pastor Carlos Magno divulgou fita de vídeo em que o bispo Macedo aparece contando dólares. De quebra, explica aos pastores como melhor chegar ao bolso dos fíéis. “Ou dá ou desce”, ensina o líder espiritual. A cena apareceu na tevê. Foi um deus-nos-acuda. Outro auê foram as braguilhas da Casa Branca com Bill Clinton e Monica Levinsky. Ou a intimidade da realeza. Gravação bisbilhoteira trouxe a público o gosto exótico do herdeiro do trono britânico. “Queria ser seu tampão”, confidenciou o príncipe Charles à namorada Camilla. Virou garoto-propaganda da Tampax.
 
 

Vai longe, terá pensado o ministro, o tempo em que segredo era de quatro paredes. As paredes viraram divisórias — indiscretas e vulneráveis. Os espiões eletrônicos, cada vez menores e mais sofisticados, estão por toda parte. Câmeras e microfones escondem-se por nosso mundinho particular. Artefatos simples abrem e-mails e arquivos de computadores. Nada escapa. Nem os bancos de dados do Pentágono estão a salvo.
 

E daí? As criptografias aprimoram-se dia a dia. Em contrapartida, inventam-se mecanismos requintadíssimos de decodificação. A guerra não cessa — eterno confronto de inteligência e contra-inteligência. O jeito é prevenir. Regra número um: não fale nem escreva nada (nem em pensamento) que não possa ser divulgado. Regra número dois: não faça nada impróprio à divulgação pública (nem pensar no mineiríssimo come-quieto). “A única tecnologia antigrampo eficaz é não abrir a boca”, ensinou o general Jorge Félix.
 
(artigo publicado em Opinião do Correio Braziliense)